terça-feira, 7 de junho de 2011

O Juiz e Deus

   Quando morava em Paraty com Dora (tempo feliz!), fui chamada juntamente com Gerardo, pai de Morena, para uma conversa a boca miúda com a diretora. Dora e Morena, ambas com 5 anos, haviam matado Deus na frente da escola! O casal de argentinos Gerardo, mergulhador e eletricista profissional, e Silvina, atriz e educadora infantil, são ateus. Também tornaram-se amigos queridos que carrego em minha imensa bagagem. O que Gerardo concluiu foi que Morena deve ter ouvido alguma das conversas, das inúmeras reuniões com discussões políticas, artísticas, filosóficas e religiosas, em sua casa. Numa dessas Morena parafraseou Nietzsche, filósofo alemão, que matou Deus. Ele não desculpou-se, mas ensinou Morena que algumas opiniões podem chocar as pessoas, seria bom que ela crescesse um pouco para emiti-las. Assim mesmo, com essas palavras.
  Eu fui criada por um pai português ateu, filho de uma portuguesinha católica praticante. Minha mãe é católica, tem lá seus santos e orações, mas nunca foi de ir em missa. Assim, acabei não tendo religião definida, mas sempre aberta a todas. Minha explicação não foi tão simples como a de Gerardo.
  Quando Dora tinha 3 anos e morava com o pai, Jonas Golfeto, na casa da madrasta, a atriz de teatro infantil, Luciana Viacava, sempre perguntava ao pai com quem iria morar. A resposta seca era: "o juiz que decide!" Na época a babá de Dora era Maria das Dores, a empregada de Luciana, uma testemunha de Jeová que ensinou Dora que só se podia adorar a Deus. Uma vez, em uma das visitas já em casa, com pernoite, eu disse que a adorava, logo Dora me corrigiu:"Não mamãe, só podemos adorar a Deus, foi a Maria que me ensinou", fiquei muito chocada com essa resposta e por saber que o ensinamento religioso de minha filha vinha de uma babá testemunha de Jeová! Tentei conversar com Maria sobre isso, mas ela era instruída a não falar comigo.
  Uma vez, Maria ficou por 3 dias dizendo que Dora estava "dormindo, comendo, tinha acabado de sair", até eu descobrir que ela já estava de férias em Ribeirão Preto, na casa dos avós José Hércules Golfeto e Ed Melo Golfeto, e suas mentiras faziam parte da trama para que Dora ficasse sem falar comigo no mês de férias. Até telefone residencial eles trocaram lá em Ribeirão... mas essa é outra história, a ser contada no momento oportuno. Enfim, descobri o plano e perguntei  para Maria se ela era temente a Deus. "Sim, sou testemunha de Jeová", então disse para ela temer muito a Deus, mas muito mesmo, porque enganar uma mãe que quer saber da filha é coisa do Demônio. Sei lá quanta reza brava teve contra mim depois disso, porque sei que muitas pessoas me amam (não entendo, mas aceito esse amor), mas como toda figura polêmica (serei mesmo?), que emite opinião sem medo, o número de desafetos também pode ser grande...
 
O Deus de Dora
   
     Para Dora eu dizia que iria morar com quem quisesse, nem que demorasse um pouco. Dora ouvia de muitas pessoas que isso aconteceu "por que Deus quis", que nada acontecia sem "a permissão de Deus", que entregasse nas mãos de Deus, que a Justiça Divina é maior que a justiça dos homens, que Deus é justo. Um dia me  perguntou sobre Deus. Se Deus era tão bom porque não deixava logo ela morar comigo? Diante de tal indagação de uma linda menina precoce de 3 anos, só pude responder que não sabia muito das vontades de Deus. Ela disse que não acreditava muito em Deus, que Deus para ela era o juiz, que nunca viu a cara dela e que decidia tudo sobre sua vida e com quem iria morar...
  Impressionante a sabedoria dessa menina. Sim, juízes são deuses! Podem decidir a vida de uma criança com uma simples sentença, muitas vezes baseadas em fatos irreais! Para Dora juiz é muito mais que Deus, porque por mais que ela rezasse (ensinaram Dora a rezar), que ela se ajoelhase e pedisse a Deus, Ele nunca a ouvia. O Juiz, que ela não conhecia, decidiu sua vida. Muitas vezes, no visitário, na hora de ser levada pelo pai insensível e sem compaixão, gritava:"chama o juiz, eu quero falar com o juiz!"Mas esse juiz nunca a viu ou ouviu. Sentenciou sua vida.
  Penso no menino Théo, filho de Elaine César. Um juiz também decidiu que ele estaria melhor com o pai e com a tia (que ela mal conhecia), lá em Brasília, do que com a mãe com quem sempre viveu em São Paulo, "porque essa estava com câncer, com uma gravidez de risco e em novo relacionamento". Sim, um juiz teve a coragem de colocar isso em um  papel! Para Théo, provavelmente, juiz também é um Deus. Ou mais que Ele.
  Eu queria falar tudo isso na escola, mas só disse para Gerardo e Silvina. Nada mais lógico que Dora queira matar Deus! Esse Deus que também nunca a ouviu.
   Depois, conversando com um outro amigo meu, Tamer Fadida, que muito me ensinou sobre judaísmo e por quem Dora nutria imenso carinho e afeto, foi esclarecido que não, já que ela estava comigo, Deus a ouviu sim. "Mas minha mãe está comigo contra a ordem do juiz, ele manda mais que Deus!". Tão triste...

Anônimos

  Se tem algo que me irrita são comentários "anônimos", pessoas que dão opinião sem se identificar. No blog da Elaine César é assim, quem critica, não se apresenta. No blog da Família Nesguinha, em corajosa e sincera Carta Aberta a Caco Barcellos, minha grande amiga e madrinha de Miranda, Gabriela Cunha, escreve sua opinião sincera, objetiva, clara e faz perguntas que "não querem calar". Um anônimo, que penso até que pode ser o pai de Dora, diz que sou um péssimo exemplo de mãe, que põe o amor acima da Lei. Sim, se for essa Lei antiga da Justiça tosca, coloco sim. Por tudo que escrevi acima, pelos direitos inerentes de Dora, por sua vontade, que para mim é a Lei Absoluta!
  Como me irrita gente covarde que se esconde na multidão para atacar pedras. E me causa asco gente que usa de brechas da Justiça para fazer perdurar processos e ações! E repulsa de gente vingativa e sem compaixão que se aproveita de amor materno para ferir outro ser, que não se importa de colocar uma criança inocente no meio de uma briga sem sentido. Eu não comecei briga nenhuma. Elaine César também não! Não importa se somos inocentes ou culpadas, sempre haverá dúvidas e criticas quanto ao nosso amor materno e direito de maternidade.
  No meu caso, a tal matéria veiculada pelo Profissão Repórter, apesar de editada para não mostrar minhas razões (afinal como resumir 7 anos em 10 minutos de jornalismo meia boca?), mostrou o pai carrasco, levando a filha contra a vontade a ainda avisando que não vai deixar falar com a mãe. Ele esqueceu de ensaiar essa parte do texto...
 Para Dora, meu amor infinito e todas essas linhas que um dia ela lerá com tranquilidade e prazer. Dora, eu te adoro, você pode me adorar também!

3 comentários:

  1. adorei o texto.. adorei

    Sobre os anonimos Adri... ai os anonimos... oq dizer né??

    To preparando um post bem legal pra publicar nos meus blogs tá...


    Bjs

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  2. Os anonimos serão sempre ANONIMOS, pois nunca terão a coragem de mostrar sua verdadeira cara.
    FEIA, cheia de ódio, máscaras usadas para dissimular sentimentos ruins, maldade, vingança.
    Viva nós que mostramos nossa cara pura, cheia de verdade, de amopr, de paz...Viva voce minha amiga, que apesar de todos esses anos sendo alvo de todas estas maldades, continua pura, amorosa, gentil, amada...FORÇA.

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  3. Considero que quando o comentário for anônimo, não deve ser lido, muito menos, considerado. Deve ser deletado imediatamente! Os anônimos podem destruir o mundo. Ninguém merece!!!

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