Quando li a carta aberta do ator Wagner Moura, indignado com a abordagem e bestialização do Programa Pânico na TV http://www.netcina.com.br/2012/04/em-carta-aberta-wagner-moura-mostra.html cheguei a escrever um texto aqui sobre o ator, suas palavras e minha concordância absoluta com tudo o que ele escreveu e pensa sobre o assunto.
Ingenuamente se autodenomina como "babaca", por acreditar na boa educação, no por favor e muito obrigada e ainda por cima ser baiano e canceriano. Supostamente quis dizer que os soteropolitanos e nascidos sob o signo de câncer são mais carinhosos e pacíficos. Isso eu não sei, mas concordo que meus amigos baianos e nascidos em julho são muito do bem, sim.
Não postei o texto porque estava muito tiete. Mas, resumidamente, concluía que Wagner Moura é um dos maiores atores brasileiros da última década (ou décadas). Ele é tão bom que torna-se lindo e galã, sem o ser. Quando vi Carandiru (Brasil, 2003, direção Hector Babenco) fiquei impressionada com sua atuação, mesmo o filme tendo estrelas e outras ótimas atuações. No mesmo ano protagonizou, ao lado da também admirável Claudia Abreu, O Caminho das Nuvens (Brasil, 2003, Vicente Amorim). Interpreta um nordestino machista típico, mas não julgamos o personagem, apenas entendemos e nos emocionamos. Desde então sempre prestei muita atenção em tudo o que ele faz e diz. É jornalista formado pela Universidade Federal da Bahia, apesar de desiludida com a imprensa brasileira, devo admitir que quando alguém decide fazer jornalismo, ao menos era assim até 10 anos, a força motora era sempre lutar por cidadania e justiça. Wagner Moura é muito sensível e inteligente, como todo grande ator deve ser. Sua carta aberta deixa isso mais do que claro.
Mas senti necessidade de escrever sobre Wagner Moura novamente, após assistir ao Tributo ao Legião Urbana, ontem na MTV Brasil. Primeiro eu nem sabia do tal programa, já estava dormindo quando meu telefone tocou. No que levantei percebi que o computador estava ligado. Dei uma olhada em mensagens e nas atualizações do Facebook. Só se falava de Legião Urbana e da desafinação de Wagner Moura. Sim, ele desafinou e algumas vezes mal se ouvia sua voz. Tudo bem, os fãs sabiam cantar todas as músicas de trás para frente. A presença de palco dele e a alegria de estar ali eram indiscutíveis.
A avalanche de comentários críticos não parava. Penso que Wagner Moura não tem a pretensão de cantar como Renato Russo, apesar da voz potente. É um fã, alguém que como eu e 99% dos meus amigos, cresceu ouvindo as letras arrebatodoras de Renato Russo. Alguém aí foi em algum show do Legião Urbana nos anos 80? Fui em alguns. Num deles, no Caiçara, em Santos, Renato mal se aguentou no palco, tentou cantar por quase 40 minutos, mas não conseguiu. Estava completamente bêbado e provavelmente bem drogado. Fiquei puta da vida! Tinha 15 anos, era sábado e queria 2 horas de show! Renato Russo não desafinou porque não cantou.
Outro show memorável foi em Ribeirão Preto, 1990, quando morei lá. A história foi muito diferente. Foram mais de 2 horas do LP Quatro Estações e outros sucessos. Já tinha 19 anos e nem esperava tanta qualidade técnica, só queria postura rock. Mas Renato Russo estava na fase paz e amor (o que também é muito rock), já sabia que era HIV positivo (mas não abrira para ninguém) e só queria falar de amor e perdão. Amei mais tudo do mesmo jeito.
A cena do rock nacional nos anos 80 era única. Podia tudo, até desafinar, não havia politicamente incorreto, as letras eram de contestação, fosse pelo coletivo ou intimista, sobre as dores da alma. Afinal os sentimentos humanos são iguais e cantar a perda ou a separação pode tocar as mais diferentes camadas sociais, culturais e etárias.
* Também gostei muito de ver meu amigo Clayton Martin participando do Tributo, na gaita. Clayton é baterista por excelência, mas com seu ouvido praticamente absoluto, também toca guitarra, gaita e canta. É integrante do Cidadão Instigado e Detetives, mas também deve tocar em mais umas 10 boas bandas por aí.