segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nosso 11 de Setembro

  Assisti só dia destes Leões e Cordeiros (EUA, 2007, direção do Robert Redford), uma inteligente e sensível observação em cima da Guerra Contra o Terror, deflagrada após o 11 de setembro. Adorei o filme, mas não é sobre interesses políticos bélicos, mídia como fantoche nas mãos do poder, professores idealistas ou alunos brilhantes que quero falar. É sobre o dia 11 de setembro de 2001. Dia do maior ataque terrorista de todos os tempos visto em tempo real, um momento histórico acompanhado por bilhões. Difícil não lembrar o que se estava fazendo naquele momento.
  Eu dormia. Estava na minha primeira gestação, que entrava no quarto mês. A placenta prévia me exigiu repouso absoluto e era difícil dormir cedo, sem ter feito nenhuma atividade física, fora o barulho da rua - morava no térreo. O telefone tocou às 9h, era Claudia Pentiocinas. Como era querida e constante podia dar bronca e reclamei por ter ligado cedo, já que sabia da minha dificuldade de sono noturno. "Esquece, amiga, o mundo está acabando, explodiram o World Trade Center".
   Apesar de já "adrenada", caminhei muito calmamente até a sala (nunca tive TV ou computador no quarto). Morava em São Paulo e o meu querido Fábio Diegues mudou-se para ficar comigo, já que necessitava de muito mais cuidados do que uma gestante normal. Mas Fábio já tinha saído para o trabalho. Então liguei a TV e vi o jornalista Carlos Nascimento falando de uma Torre, enquanto outra era atacada. Até ele se confundiu, não sabendo se era replay ou novo ataque terrorista. Logo vieram as imagens do Pentágono em chamas. E a explosão aérea de uma outra nave. Seria o fim do mundo?
   Liguei imediatamente para Ali Hassan: libanês, jornalista e muçulmano. "Caramba Dri, você já é a quinta pessoa que me liga. Eu não tenho nada a ver com isso", brincou. "Sei, meu querido, mas preciso conversar com alguém para entender o que está acontecendo e dos que eu conheço você é quem tem maior conhecimento da cultura árabe. Por favor, venha em casa depois do trabalho...". Antes de entrar no repouso, trabalhava ao lado do Ali, na assessoria de imprensa do Sebrae- SP. Era um ótimo profissional e amigo. Companheiro de incontáveis horas de conversas sobre tudo.
  E então liguei para Flavia Vieira, uma "irmã", aventureira destemida, que tinha conseguido visto de um ano para os Estados Unidos, no dia anterior. "Olha o que está acontecendo, você não pode ir para lá", implorei. "Pelo contrário, darling, agora que ninguém mais vai conseguir visto, vou aproveitar e trabalhar muito por lá". E foi o que aconteceu mesmo!
   Mas a maior lembrança é da incerteza mundial causada pelo ataque. E eu, abraçando minha barriga, só tinha certeza que deveria proteger ainda mais aquela vida que mal começava. No mesmo dia escrevi uma carta para Dorinha - já sabia que era menina desde os 3 meses e meio e já a chamava de Dorinha. Falava sobre o momento histórico em que ela viria ao mundo, de uma guerra terrorista (como se todas não o fossem), de como o mundo necessitava de amor e paz. Foi neste dia, 11 de setembro de 2001, que tive certeza absoluta que traria ao mundo um ser especial, repleto de sabedoria e amor, fraternal, solidário. Uma pessoa que faria diferença. Senti que Dora precisava mesmo nascer e eu faria de tudo para que viesse no nono mês. E que enquanto estivesse comigo, estaria protegida, feliz e saudável. Não importava que Torres Gêmeas estivessem desabando. Dora estava protegida, comigo. Só o amor é capaz de parar uma guerra.
   Tive certeza que fiz a escolha certa em seguir adiante com uma gravidez tão difícil. Sabia que poderia perdê-la até o sexto mês ou, se nascesse prematura, poderia ter problemas na formação. Mas vendo aquelas explosões só conseguia pensar num bebê que nasceria, cresceria e faria muita diferença. Foi uma certeza inexplicável. Não porque era minha filha, afinal todos os filhos fazem a diferença para as mães, sentia algo além de mim. Parei de ter medo de perdê-la.
   De certa forma, a perdi. Mas a preparei para ser o que Dora é. O terrorismo continua. Os EUA parecem não mais poder proteger o mundo. Mal podem se proteger. Eu protegi Dora o quanto pude. Agora nem posso ver. Minha guerra pessoal é tão pequena diante da guerra do mundo. Mas é minha dor, minha filha que tanto protegi e tiraram de mim. E eu que já senti tanto as dores do mundo, agora tenho a minha dor, que é só minha. 
  O mundo muda. As pessoas, talvez.

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