terça-feira, 29 de maio de 2012

Declínio de Maio


    Esse título não é original, é uma música da banda Violeta de Outono, nascida nos anos 80 e que tocou na quinta-feira passada no Sesc Santos http://youtu.be/UGZttjdbftY
  Quando conheci esse som lembro que parei de escrever minhas poesias com metáforas, cheias de melancolia e descrença. O que eu ouvia já dizia tudo e ainda havia o Baixo que falava sem palavras. O show que fui em 1987 estava repleto de adolescentes e jovens com espírito inquieto, que sabiam o significado de todas as letras. Concordo que a escolha da data deste último show não foi feliz, tinha Santos F.C. pela Libertadores, em jogo decisivo para seguir na semifinal. Mesmo assim, as poucas pessoas presentes estavam sentadas e muitos nem sabiam quais músicas eram hits dessa banda cult. Também tocaram som novo, muito bom, de qualidade técnica indiscutível, tendendo para o progressivo. Disputar com um jogo de Libertadores do Santos, na Vila Belmiro, é missão difícil. Quando meu amigo Marcelo Santos comprou nossos ingressos, também não sabia do tal jogo, se soubesse, talvez nem tivesse comprado.
   Então comecei uma reflexão sobre todas as coisas ruins e missões difíceis que sucederam-se neste mês de maio. Um mês que seria lindo por excelência, com o frio e luzes do outono, com o Dia das Mães, aniversários de tantos amigos queridos. Mas esse Dia das Mães nem ousei escrever aqui, porque não foi dos mais alegres. Nada de Dora, nem ligação ou mensagem. Ainda assim a minha era a melhor situação no tradicional almoço, pois estava com Miranda me dando beijos e dizendo a cada 10 minutos: Feliz Dia das Mães. Também tinha minha mãe e tia Cida, que adotei como segunda mãe. 
   Essa querida tia perdeu sua primogênita e única filha mulher num dia 1 de maio e seu aniversário é no dia 2, há 18 anos passou a data no enterro da filha. Mesmo tendo 3 filhos queridos e 4 netos, nunca mais conseguiu passar o seu aniversário ou dia das mães completamente feliz. Sei como é. Datas comemorativas e aniversários de nascimento e morte são os mais dolorosos. Tia Cida tem duas noras, minhas amigas que estavam lá. Uma perdeu a mãe muito jovem, deixando 5 meninas órfãs. A outra está numa gestação complicada, com a certeza de que seu bebezinho, se chegar ao nono mês, não viverá mais que horas. E o bebê mexeu no Dia das Mães...
    Pessoalmente é muita tristeza, mas na coletividade a desolação não é diferente. Junte-se a tudo isso a indignação que sinto com todas as orgias feitas pelo Governo que nós sustentamos; imprensa desacreditada; o Judiciário que culpa o sistema por sua lentidão (e que também é sustentado por nós); e pior: a esperança do veto da presidente Dilma ao Novo Código Florestal que acabou em nada. Ah, sim, ela vetou 12, eram 84 e, claro, os vetados poderão voltar, afinal, quem são mesmo os responsáveis por aprovar ou desaprovar Leis? Minha esperança em Dilma era  porque ela é mulher, tem filha e neta, mas não pensou nem no futuro dos seus, afinal, os interesses políticos são mais importantes do que a humanidade.
   Só mesmo quem vive na base de antidepressivos para acordar sorrindo e achar que está tudo bem porque o Sol brilha. Inclusive, acho que o Sol está brilhando demais para o mês de maio, isso não é normal... e para os que ainda acham que sou uma pessoa iluminada, sinto muito, vejo muito mais escuridão do que luz. O declínio de maio é apenas um presságio dos anos de trevas que estão por vir.  
  


4 comentários:

  1. Para todo declínio existe um final raso! Para o sol, a lua; para a luz, a escuridão;para o jogo, o troféu; para a morte, a vida e vice e versa; para parentes, os amigos; para dia das mães, o abraço; para aquele que se intitula de Pai, no final o vazio e a solidão, visto que os filhos são criados para o mundo e qdo não cuidados com amor e digninidade eles partem. Como vc pode ver Adriana todo declínio tem onde ancorar! O seu é bem promissor, pois para Dora, vc a mãe!. Feliz dia das Mães, dia da Jornalista, dia do Amigo, dia da Competência, dia do Carácter! Feliz dia disso tudo pra vc Adriana.

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  2. Pensei em ignorar este texto. Mais uma pérola entre tantas brilhantes que já escreveu. Tenso e denso. Verdadeiramente cruel, como a vida é.Acho que de 10 em 10 minutos é preciso lembrar que enquanto lamenta as injustiças, também as comete. Ser mãe ou pai, não é uma festa isolada a cada dia das mães, aniversários e óbitos e na qual na manhã seguinte acordamos para recolher a sujeira, relembrar as gafes e as situações engraçadas. É uma festa diária. Algumas são boas e outras não. Talvez, só talvez, a sua tia Cida preferisse saber que todos os seus filhos estão vivos e ter a esperança de um dia reuní-los numa festa em maio.

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    1. Tenho certeza de que minha tia preferia pensar em reunir todos os filhos outra vez, mas não ouso comentar aqui o diálogo tão particular que tivemos sobre nossas situações. Como disse, Fa Santista, minha situação era a melhor no almoço, mas não consigo ficar feliz pq minha situação é menos pior. Ainda insisto em sentir a dor do outro, ainda mais se o outro faz parte da minha vida desde sempre. E obrigada Publisher, agradeço muito suas palavras e sua amizade, sua confiança em mim quando nem eu mesma confio...

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