quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crimes de Ódio

   Passei o dia no X Seminário LGBT do Congresso Nacional, em Brasília. Minha função era entrevistar líderes de movimentos, personagens interessantes, políticos e representantes religiosos para falar sobre questões de direitos civis, respeito à diversidade e, mais do que tudo, sobre a crescente intolerância dentro do Legislativo. Ao mesmo tempo, a luta contra essa intolerância mostra quem realmente, dentro daquele Congresso, está na causa dos Direitos Humanos. O trabalho é para o Conselho Federal de Psicologia, pois há uma resolução de 1999 afirmando que homossexualidade não é doença, portanto não precisa de tratamento e cura.
   Acontece que há uma certa bancada querendo derrubar essa resolução e tratar homossexuais. Falar que isso é um retrocesso soa redundante. A questão não é apenas religiosa, é também econômica e política. Começa que, se somos todos iguais, todos devem ter o mesmo direito: casamento, adoção, respeito, cidadania. Penso que há causas mais urgentes para serem debatidas, como a situação mais que precária da saúde e educação. Mas querer tratar homossexualidade como doença é caso de falta de saúde mental e falta de educação. Então, está tudo interligado e se isso acontecer, logo estarão tratando mulheres como seres inferiores e negros como "raça amaldiçoada". Não tolero a intolerância e odeio o ódio. 
   Tenho amigos e familiares evangélicos que não são fundamentalistas e não concordam com essa opinião. Mas o que acontece em Brasília é grave. Semana passada foi aprovada a Lei que criminaliza a homofobia, nem deu tempo de comemorar e a Lei foi revogada. O que diferencia o crime homofóbico dos outros crimes é o ódio. Não é "apenas" um tiro, é espancamento, tortura, sadismo.
   Por várias vezes tive vontade de chorar ouvindo relatos de pessoas que sofreram por demonstrar o seu amor, que perderam amigos queridos, assassinados por serem homossexuais. Como deve ser triste não poder abraçar, pegar na mão, fazer um carinho em quem se ama por medo de apanhar, de ser ultrajado, humilhado, morto... por que o amor incomoda tanto? Penso que os homofóbicos sentem um desejo imenso pelo mesmo sexo e odeiam tanto isso que querem exterminar qualquer vestígio gay do planeta.
    Tem gente que diz que "isso" vai acabar com a família, que é difícil explicar para uma criança o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que acho difícil explicar para uma criança é que existam pessoas que odeiam outras por isso ao ponto de assassiná-las. O que acaba com a família é a falta de amor.
    Uma das conclusões que cheguei é que se existe uma cura, só pode ser encontrada quando a pessoa sai do armário. O homossexual ou transexual sofre por medo. Medo da família, da sociedade, da falta de aceitação. A partir do momento que aceitam e demonstram sua sexualidade, a dor passa. Quando são respeitados como seres humanos, livres para amar quem quiser, o orgulho vem. Orgulho de demonstrar seu afeto, seu amor, de poder mostrar ao mundo seu parceiro, como fazem todas as pessoas quando se casam.
    Por que é tão chocante ver dois homens ou duas mulheres de mãos dadas, abraçados, se beijando carinhosamente? Não falta Jesus no coração dos fundamentalistas, o que falta é amor, é respeito.  Não tenho religião, mas até onde eu sei, o que ouvi dizer por aí, é que Jesus pregava amor ao próximo e compaixão. Como fundamentar o ódio dentro desse dogma religioso? Nunca li a Bíblia, aliás, só o Apocalipse. Mas não dá para seguir algo escrito ha 2 mil anos, com tantas metáforas, como verdade absoluta. Como os contos de fadas, a Bíblia é algo para pensar, para refletir, pode ter um fundo de verdade, mas é um livro de ficção... seguir a Bíblia literalmente é criar a desigualdade entre os homens. Somos todos iguais enquanto coletivo e únicos individualmente.
   
   

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