segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Fazendo Amor e Música

    O ano não lembro, mas era Carnaval, eu e Keila, minha prima, viajamos para Paraty (RJ). Acampamos na praia do Jabaquara, com Cynthia e Paula, as irmãs Matozinho. Mas praia mesmo era lá em Trindade. A Serra do Deus Me Livre nem tinha asfalto, daí choveu e não pudemos voltar. Lembro da Keila querendo ficar, porque tinha visto um cara que era o seu número. E lá estava eu sentada na calçada, tomando uma cerveja gelada, enquanto esperávamos "o cara" passar. Então vi um rapaz magro, branco, de cabelo desgrenhado, com olhar I don't care. Carregava uma prancha. Keila e seu charme irritante logo trouxeram o cara para o seu lado. Olhares, sorrisos, afinidades e saí de mansinho porque estava sobrando.
    Engraçado foi saber que eles já haviam se encontrado uma outra vez e eu também estava lá. Clayton Martin, o número da Keila, era baterista dos Ostras e fomos num show deles na praia de Maresias (litoral norte de SP). Perdi a Keila de vista e fiquei preocupada porque ela já tinha bebido demais, como não achei, resolvi voltar para o show. E lá estava ela! Dançando no palco! Parecia uma performance, nem a tiraram de lá, afinal sempre faz sucesso garota bonita no meio da banda. 
    Mas em Trindade foi o encontro de verdade. E então não se largaram mais. Algumas temporadas depois, mudaram-se para Arraial D'Ajuda, na Bahia. Fiquei um ano longe desses adoráveis malucos, fui vê-los no final de 1999, porque queria começar 2000 em grande estilo. Fui eu e o Azeitona (Fábio Daros), percussionista dos bons. Chegamos exaustos, abraçamos os queridos Clayton e Keila e fomos todos para a praia. Na volta, que tristeza, a casa tinha sido invadida e minha câmera fotográfica nova, cheia das lentes, filtros e zoons foi junto no roubo. Dessa jornada incrível, que caminhei com o Azeitona de Arraial até Caraíva, as imagens ficaram só na lembrança.
     O que mais me marcou na viagem foi ver o Clayton tocando violão, gaita e cantando (não sabia que ele sabia cantar além dos backing vocals). A Keila também tocava, mas estava tocando muito melhor. Sua voz rouca, meio punk, agora estava mais afinada. Era muito amor e música! Estavam fazendo uma imersão em novas alternativas. Achei tudo ótimo! Assim nasceu a banda Vaca de Pelúcia, da qual eu era a maior fã!
     Gravaram um CD, voltaram para São Paulo e começaram a fazer shows. Ia sempre que meu trabalho quase escravo permitia. Uma vez estava com a Keila no show dos Autoramas (https://youtu.be/bkrNGlZrk-E), no Sesc Santos. A gente lá curtindo, dançando, cantando e uma turma teen do rock aproximou-se dela e perguntou: "Você é a Keila do Vaca de Pelúcia? Nossa, somos seus fãs, vocês são demais, você é linda!" Acho que fiquei mais orgulhosa do que ela nesse dia, que na verdade, nunca percebeu a dimensão da banda.
     Quando fiz repouso absoluto na gestação da Dora, Keila passou os últimos 3 meses comigo, em São Paulo, cuidando de mim, cozinhando coisas deliciosas e arrumando tudo com sua mania de limpeza que rendeu o apelido de Mônica (Geller, dos Friends). Já escrevi sobre isso por aqui, mas não que o Clayton também era hóspede constante na casa, chegava ou muito tarde ou muito cedo, sempre com queijos de diversos tipos para alegrar nossa mesa. A Vaca estava já meio parada e o Clayton, que não parava nunca de tocar tudo, estava em outros projetos, como Os Detetives e Cidadão Instigado. Keila começou a dedicar-se mais às suas pinturas e vendas.
     Também nunca entendi porque o casal se desfez, embora continuassem na parceria, companheirismo e amizade, sempre juntos em todas as outras coisas. Mesmo cada um com outro par, ensaiavam juntos, compunham juntos, eram de uma cumplicidade invejável, um tipo de amor incondicional, acontecesse a merda que acontecesse.
      E tem dias e principalmente noites, que bate uma saudade tão grande, só traduzida pela música. Não diminui, nem faz parar, mas alivia e pode me fazer dormir.

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