sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Morte Súbita

    Ano passado, não lembro quando, minha filha mais velha me perguntou qual livro eu estava lendo. “Nenhum”. Daí perguntou qual foi o último que eu tinha lido. “Não lembro”. Devo ter lido tanto na vida que chegou a hora em que só queria escrever. Ela me disse que lia cinco livros por mês. Só nas férias leu todos do Harry Potter. Lembrei de mim com a mesma idade, era também uma devoradora de livros, sócia da biblioteca municipal, pegava dois por semana, fora as trocas de livros entre os vários amigos que também adoravam ler.
    Mas tomei uma “bronca” virtual da minha filha (o único contato que temos é virtual), porque deveria ler mais, porque literatura é vida.* Assim como eu, na minha infância e adolescência, Dora cresce filha única, numa casa de adultos, sem crianças e busca na literatura uma forma de libertação e conhecimento da vida. Voltei a ler mais livros e menos matérias jornalísticas a partir daí. 
   Comprei Morte Súbita, da J.K. Howling, para dar de presente de aniversário para Dora. Não sei quando poderei entregar, não há data nenhuma para encontro nenhum. Não quero mandar pelo correio. Isso é tão parente distante! E li o livro, já que é para adulto e queria saber se poderia ser lido ou não por uma garota de 12 anos. São mais de 500 páginas e só não li em dois dias porque tenho muito a fazer em 24 horas, mas cheguei a dormir menos de 4 horas por noite graças à narrativa envolvente, aos personagens consistentes e a essa escritora tão, mas tão inteligente e sensível que não posso ser nada menos que sua fã.
  Morte Súbita é daquelas obras que te faz pensar no dia seguinte e no outro. É uma ficção cheia de realidade. Todos aqueles personagens são tão verdadeiros que é possível identificar-se nos pensamentos de cada um, todo mundo tem seu lado obscuro e sombrio, alguns mais ressaltados, outros conseguem esconder melhor. Minha parte sombria eu não posso esconder nem se quisesse (mas não quero), já foi exposta de todas as formas. Perder a guarda da minha filha foi resultado de um processo judicial, iniciado pela outra parte, após eu ter passado por uma depressão profunda (culpa minha, sempre). Essa depressão, melancolia ou tristeza nunca poderão ser esquecidas. O vazio deixado por essa ausência dilacerante da filha me faz lembrar todos os dias da depressão que eu tive. E que, por conta desse vazio, sempre me ronda. 
   Como eu queria poder ajudar todos os deprimidos do mundo, que além do sofrimento latente e inexplicável, ainda suportam os preconceitos alheios, “é falta de um tanque de roupa suja para lavar”, “falta de problemas na vida”. Ouvi muito isso, de pessoas muito próximas, algumas mais autênticas me diziam na cara, outras falavam pelas costas, mas nunca odiei essas pessoas. Ignorância não deve causar ódio e sim compaixão. 
    E esse livro mostra o quanto a humanidade pode ser cruel e hipócrita. Como é difícil passar incólume pela adolescência e como os traumas da infância permanecem por toda a vida. Como é fácil destruir a autoestima de alguém vulnerável e jovem. Eu nem sou tão vulnerável e muito menos uma jovem, mesmo assim sinto-me uma pessoa abaixo da linha do mérito. 
  Esses dias são particularmente difíceis. Minhas filhas nasceram 9 e 16 de fevereiro e esse será o quarto aniversário que não passam juntas. Como disse a psicóloga forense, “perderam o vínculo de irmãs”. Data de aniversário de filhos deveria ser especial e feliz. Para mim não. 
   Em Morte Súbita há mãe viciada em heroína e mesmo assim ela tem a guarda dos filhos, passa por aquela via sacra de assistentes sociais, psicólogas... mas é uma viciada em heroína, que esquece de alimentar e banhar o filho de 3 anos. Tem também o esporte resgatando a cidadania, devolvendo a autoestima de garotas que sofrem bullying, que tem mãe viciada em heroína e cuida do irmão pequeno.  Tem muita história pesada no livro e agora não sei se devo dar para Dora ler. Não por mim, que li Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída aos 12, mas pelo o que a família Golfeto (os guardiões da minha filha) pode pensar. Podem até levar o livro e colocar no processo, para mostrar ao juiz a pessoa inadequada que sou. 
   Agora o mais louco é que estou escrevendo um romance policial, nele um juiz é assassinado no primeiro parágrafo. Sua morte muda o rumo de várias histórias e por meio dos vivos fica-se sabendo sobre o morto. Em Morte Súbita acontece a mesma coisa! Obviamente J.K. Howling é mais brilhante e infinitamente mais talentosa do que eu. E, por sorte, já mostrei os dois primeiros capítulos para três pessoas de extrema confiança, críticas e sagazes. Só para saber se estava no caminho certo... 
   Morte Súbita me fez pensar muito na morte e na vida besta de tanta gente. Minha vida mesmo anda muito besta. Fiquei com tanto medo de ter uma arma apontada novamente para minha filha* que nem quero mais sair de casa. Ainda bem que o incrível mundo da internet permite mandar os textos de qualquer lugar. Mas ainda gosto de me reunir com pessoas para discutir projetos. De todas as mortes, a súbita é a menos trágica.

* Escrevi sobre esse assalto num dos últimos posts

6 comentários:

  1. Cara moca,a lei de alienacao nao contempla a proibicao do direito total de visita em nenhuma ocasiao,a cf no artigo 227 ja contempla casos em que isso pode ocorrer a alienacao não,voce esta provavelmente sendo vitima de uma ilegalidade ,podendo gerar indenizacao contra os autores inclusive o juiz,voce precisa ter uma asistencia juridica melhor ,originalmente eles estao cometendo alienacao.

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  2. se voce tivesse pedido a guarda oficial direto na sua comarca,provavelmente mãe e filha hoje estariam juntas,nunca de seus filhos ao pai antes de procurar o judiciario da sua cidade.

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  5. Agora eu descobri o que significa "fixacao domicilio cautelar"quer dizer que o foro onde o processo corre originalmente permanecera aquele mesmo que o detentor da guarda perda a guarda por alienacao e quem consseguiu se mude para outro foro,ou seja se voce tivesse pedido a busca apartir da sua comarca ,o processo seria permanentemente ai,mesmo que por algum caso a perdesse.

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  6. Não sei o fato,mas voce deve ter perdido a guarda por algum motivo,se esse motivo não foi comprovado ,voce deve entrar com recurso e alegar que a perda da guarda foi por motivo sem comprovação,acusação não comprovada ,se isso for comprovado voce recebera tudo que gastou de volta alem da guarda de volta.
    Voce deve contestar o motivo da perda da guarda.

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