segunda-feira, 10 de março de 2014

Os 40 Anos de Fernanda Robles

   Enfim aconteceu: quebrou a barreira dos 40 a última moradora do épico apartamento 51 A. Quem viveu leva a marca deste lugar, um apartamento grande na rua da Consolação, onde moravam amigas santistas. Não, não era bairrismo, era uma grande coincidência, quando alguma moradora saía por motivos de mudança de trabalho ou casamento, entrava outra e sempre era alguma amiga de infância ou adolescência, no caso, de Santos. 
  Para comemorar a entrada nos “enta”, Fernanda Robles fez uma festa. Mais do que comemorar o aniversário da amiga maravilhosa, todos estavam lá para celebrar o reencontro. Então fui relembrando a importância da Fernanda em minha vida e todas as coisas e pessoas boas que ela me trouxe. Nos conhecemos na adolescência, era prima das minhas melhores amigas, Flavia e Ana Paula. Sempre aparentou menos idade: aos 16 parecia ter 12, hoje aos 40, se disser que tem 30 ainda acharão que é muito. Mas o que sua aparência tem de jovem, sua cabeça tem de madura e responsável. Não consigo enumerar todas as vezes que passamos férias e feriados em Paúba, nem todas as risadas e insigths e músicas e livros divididos. Houveram lágrimas também, mas que ficavam suaves ao lado dela. 
  Quando eu estava com problemas de convivência no apartamento que dividia em São Paulo, lembrei do 51 A. Liguei para Fernanda e disse que assim que vagasse um quarto (eram 4), que me chamasse. Alguns dias depois ele me retornou: Iamara Araújo e Glaucia Diegues estavam saindo (minhas amigas desde sempre). Meu único porém era a gata Nana. As outras moradoras e também minhas grandes amigas, Zan Moraes e Maria Paula Alves, aceitaram a bichana e mudei para lá. 
  Zan e Maria Paula saíam cedo para trabalhar, eu e Fer tínhamos horários mais flexíveis e passávamos mais de uma hora no café da manhã caprichado, com muita conversa e projetos de vida. Na época não havia coleta seletiva de lixo e por iniciativa desta bióloga, começamos a reciclar em casa e levar até a Cooperativa da João Moura. Numa semana levava ela, na outra eu. Foi então que percebi que nosso lixo reciclável era 5 vezes maior do que o orgânico. Foi quando acompanhei o trabalho dos catadores, dos recicladores, que ganharam um espaço da Prefeitura (a grande Erundina era a prefeita de São Paulo), muitos deixaram de morar na rua após a reciclagem. Claro que fiz matéria sobre isso, mas é outra história. 
  Fernanda também trouxe para minha vida Sérgio Galvani. Começaram a namorar nos anos 90, estão juntos e com três filhos. Fernanda é ligada nos 220, já Galvas é um ser de fala mansa, tranquilo, mas igualmente inteligente, lindo e gente boa. Uma vez eles terminaram o namoro, acho até que foi ela quem terminou. Lembro de ter dito que, se eles não voltassem, nunca mais eu acreditaria no amor. A separação durou menos de uma semana e nós (eu, Zan, Maria Paula) festejamos o retorno como se fosse um relacionamento nosso. Afinal, Galvas era nosso quinto elemento, sempre presente no 51 A, um cara que dava liberdade de falar e fazer qualquer coisa, entende muito as mulheres esse cara e já me deu conselhos que sigo para a vida. 
  Quando a médica me disse que deveria marcar o parto de Dora entre 6 e 12 de fevereiro, não tive dúvidas: seria dia 9. Não foi coincidência, escolhi o mesmo dia de Fernanda, que também é bailarina. Faço aniversário no mesmo dia da mãe da Fer, a querida Luzia, então acredito que ela jamais esqueça meu aniversário, assim como jamais esqueço o dela. Dora também é inteligente, bailarina e muito madura. Acho que acertei na data – algum acerto a gente tem que ter na vida. 

A Festa – O evento foi em Campinas, onde moram Fer e Galvas. Estou numa fase muito ruim há alguns anos e, de janeiro para cá, estou a beira do abismo, que acena para mim convidativo todas as noites, às vezes de manhã também. Festas e bares há algum tempo não me atraem. Mas eu sabia que não seria uma festa qualquer, que encontraria as meninas do 51 A. 
   Alguns dias antes Fer ainda me pressionou: “- Você vem, né Dri?” É muito importante para mim saber que as pessoa que amo também se importam comigo. Apesar de que continuo amando de qualquer jeito. Mas fico feliz quando a recíproca é verdadeira. 
   Fui com Maria Paula, que também amo tanto. A ida foi uma saga, irritante em alguns momentos, mas divertida no final. Até entrega de carro em São Paulo para uma amiga aconteceu, quando passamos para o carro de Laerte, namorado da Maria. Paradas, atrasos, chuva. Enfim chegamos na casa de Mônica Gobitta e seguimos para a festa. Da rua já se ouvia o som da banda Os Intocáveis. Quanta alegria encontrar Ana Cristina Basravi (my Soul), Iamara, Carmen Santana, Zan. Que bom ver que essas mulheres continuam incríveis, lindas, superando crises, gerenciando as vidas com leveza e amor. 
   A banda só tocava anos 80, Fernanda escolheu tudo, até a playlist nas paradas da banda, música por música. Uma centena de pessoas dançava, pulava e cantava todos os hits dos 80. A maioria esteve lá nos shows da Plebe Rude, Ira!, Titãs, Camisa de Vênus e todas essas bandas responsáveis pelo boom que o rock nacional viveu. A banda que tocava era ótima, alguns tinham filhos também guitarristas, baixistas, que também tocaram. Percebemos a importância de ter vivido juntos tudo isso. Éramos sim mais politizados, o rock era muito divertido, mas cheio de atitude, mesmo quando falava de banalidades.  Éramos felizes e tínhamos plena consciência disso. 
   Num certo momento o vocalista da banda clamou por alguém que soubesse cantar a saga de Arlindo Orlando (A dois passos do paraíso, da Blitz). Um empurrava o outro para ir, todos já bem embriagados, de repente o nome de Galvani foi chamado, ele não se intimidou, pegou o microfone como se fosse seu melhor amigo e arrasou. Além de tudo, ele também canta! Um momento inesquecível. Senti orgulho de ser amiga dele. A música terminou com um beijo apaixonado, de um casal lindo e iluminado (sério, tinha luz saindo deles). Nem diretor de comédia romântica seria capaz de imaginar tal cena, nada foi planejado, tudo com tanta espontaneidade. O único plano era a diversão. Fernanda faz aniversário e o presente é nosso. Só alguém como ela poderia reunir tanta gente especial em um único espaço. Obrigada, Fer, por me fazer sempre lembrar de como é o amor e a amizade.

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