Enfim aconteceu: quebrou a barreira dos 40 a
última moradora do épico apartamento 51 A. Quem viveu leva a marca deste lugar,
um apartamento grande na rua da Consolação, onde moravam amigas santistas. Não,
não era bairrismo, era uma grande coincidência, quando alguma moradora saía por
motivos de mudança de trabalho ou casamento, entrava outra e sempre era alguma
amiga de infância ou adolescência, no caso, de Santos.
Para comemorar a entrada
nos “enta”, Fernanda Robles fez uma festa. Mais do que comemorar o aniversário
da amiga maravilhosa, todos estavam lá para celebrar o reencontro. Então fui
relembrando a importância da Fernanda em minha vida e todas as coisas e pessoas
boas que ela me trouxe. Nos conhecemos na adolescência, era prima das minhas
melhores amigas, Flavia e Ana Paula. Sempre aparentou menos idade: aos 16
parecia ter 12, hoje aos 40, se disser que tem 30 ainda acharão que é muito.
Mas o que sua aparência tem de jovem, sua cabeça tem de madura e responsável. Não consigo enumerar todas as vezes que passamos férias e feriados em Paúba,
nem todas as risadas e insigths e
músicas e livros divididos. Houveram lágrimas também, mas que ficavam suaves ao
lado dela.
Quando eu estava com problemas de convivência no apartamento que
dividia em São Paulo, lembrei do 51 A. Liguei para Fernanda e disse que assim
que vagasse um quarto (eram 4), que me chamasse. Alguns dias depois ele me
retornou: Iamara Araújo e Glaucia Diegues estavam saindo (minhas amigas desde
sempre). Meu único porém era a gata Nana. As outras moradoras e também minhas
grandes amigas, Zan Moraes e Maria Paula Alves, aceitaram a bichana e mudei
para lá.
Zan e Maria Paula saíam cedo para trabalhar, eu e Fer tínhamos
horários mais flexíveis e passávamos mais de uma hora no café da manhã
caprichado, com muita conversa e projetos de vida. Na época não havia coleta
seletiva de lixo e por iniciativa desta bióloga, começamos a reciclar em casa e
levar até a Cooperativa da João Moura. Numa semana levava ela, na outra eu. Foi
então que percebi que nosso lixo reciclável era 5 vezes maior do que o
orgânico. Foi quando acompanhei o trabalho dos catadores, dos recicladores, que
ganharam um espaço da Prefeitura (a grande Erundina era a prefeita de São
Paulo), muitos deixaram de morar na rua após a reciclagem. Claro que fiz
matéria sobre isso, mas é outra história.
Fernanda também trouxe para minha
vida Sérgio Galvani. Começaram a namorar nos anos 90, estão juntos e com três
filhos. Fernanda é ligada nos 220, já Galvas é um ser de fala mansa, tranquilo,
mas igualmente inteligente, lindo e gente boa. Uma vez eles terminaram o
namoro, acho até que foi ela quem terminou. Lembro de ter dito que, se eles não
voltassem, nunca mais eu acreditaria no amor. A separação durou menos de uma
semana e nós (eu, Zan, Maria Paula) festejamos o retorno como se fosse um
relacionamento nosso. Afinal, Galvas era nosso quinto elemento, sempre presente
no 51 A, um cara que dava liberdade de falar e fazer qualquer coisa, entende
muito as mulheres esse cara e já me deu conselhos que sigo para a vida.
Quando
a médica me disse que deveria marcar o parto de Dora entre 6 e 12 de fevereiro,
não tive dúvidas: seria dia 9. Não foi coincidência, escolhi o mesmo dia de
Fernanda, que também é bailarina. Faço aniversário no mesmo dia da mãe da Fer,
a querida Luzia, então acredito que ela jamais esqueça meu aniversário, assim
como jamais esqueço o dela. Dora também é inteligente, bailarina e muito madura.
Acho que acertei na data – algum acerto a gente tem que ter na vida.
A Festa –
O evento foi em Campinas, onde moram Fer e Galvas. Estou numa fase muito ruim
há alguns anos e, de janeiro para cá, estou a beira do abismo, que acena para
mim convidativo todas as noites, às vezes de manhã também. Festas e bares há
algum tempo não me atraem. Mas eu sabia que não seria uma festa qualquer, que
encontraria as meninas do 51 A.
Alguns dias antes Fer ainda me pressionou: “-
Você vem, né Dri?” É muito importante para mim saber que as pessoa que amo
também se importam comigo. Apesar de que continuo amando de qualquer jeito. Mas
fico feliz quando a recíproca é verdadeira.
Fui com Maria Paula, que também amo
tanto. A ida foi uma saga, irritante em alguns momentos, mas divertida no
final. Até entrega de carro em São Paulo para uma amiga aconteceu, quando
passamos para o carro de Laerte, namorado da Maria. Paradas, atrasos, chuva.
Enfim chegamos na casa de Mônica Gobitta e seguimos para a festa. Da rua já se
ouvia o som da banda Os Intocáveis. Quanta alegria encontrar Ana Cristina
Basravi (my Soul), Iamara, Carmen Santana, Zan. Que bom ver que essas mulheres continuam
incríveis, lindas, superando crises, gerenciando as vidas com leveza e amor.
A
banda só tocava anos 80, Fernanda escolheu tudo, até a playlist nas paradas da banda, música por música. Uma centena de
pessoas dançava, pulava e cantava todos os hits dos 80. A maioria esteve lá nos
shows da Plebe Rude, Ira!, Titãs, Camisa de Vênus e todas essas bandas
responsáveis pelo boom que o rock nacional viveu. A banda que tocava era ótima,
alguns tinham filhos também guitarristas, baixistas, que também tocaram. Percebemos a importância de ter vivido juntos
tudo isso. Éramos sim mais politizados, o rock era muito divertido, mas cheio de
atitude, mesmo quando falava de banalidades. Éramos felizes e tínhamos plena consciência
disso.
Num certo momento o vocalista da banda clamou por alguém que soubesse
cantar a saga de Arlindo Orlando (A dois passos
do paraíso, da Blitz). Um empurrava o outro para ir, todos já bem
embriagados, de repente o nome de Galvani foi chamado, ele não se intimidou,
pegou o microfone como se fosse seu melhor amigo e arrasou. Além de tudo, ele
também canta! Um momento inesquecível. Senti orgulho de ser amiga dele. A música
terminou com um beijo apaixonado, de um casal lindo e iluminado (sério, tinha
luz saindo deles). Nem diretor de comédia romântica seria capaz de imaginar tal
cena, nada foi planejado, tudo com tanta espontaneidade. O único plano era a
diversão. Fernanda faz aniversário e o presente é nosso. Só alguém como ela
poderia reunir tanta gente especial em um único espaço. Obrigada, Fer, por me
fazer sempre lembrar de como é o amor e a amizade.
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