quarta-feira, 1 de abril de 2015

A Vida Imita a Pop Art


   Conjecturando com meu primo Junior, o primeiro salvador após uma súbita perda financeira de carteira abastecida, cartão de banco e documentos, passei do choro ao riso, há um mês atrás. Quando esses roubos ou assaltos acontecem (e comigo acontecem, em média, uma vez por ano) dá um vazio interior, uma dor de estômago, um pesar profundo ao pensar em todo o tempo despendido em PerdeTempos, RoubaTempos burocráticos, uma sensação de idiota. Ficar sem cartão, sem carteira não é tão charmoso quanto sem lenço e sem documento.
   Daí eu e meu primo tentávamos analisar porque essas coisas acontecem e entender a razão e reação, como uma troca de energia. Sua teoria é que “assombrações” só costumam aparecer perto de cemitério e lugares sombrios. “Você nunca ouviu dizer que apareceram espíritos em festas, onde tem gente dançando e se divertindo”. Filosofamos sobre as energias negativas das coisas e pessoas.
   Então tentei afastar meus pensamentos negativos e imaginar algo engraçado nisso. Me senti um episódio de Two Broke Girls, em que uma patricinha falida mora numa kitnet com uma garçonete vulgar. Essas séries ficam no inconsciente quando há uma identificação, acho. Então ouvi mensagens positivas de “somos fênix”, “acalme-se que tudo se resolve”. Mas penso que fênix ressurgir das cinzas é uma lenda e quando tudo se resolve, algo acontece para complicar. De novo pensei nas amigas Max e Caroline, as garotas quebradas. A cena inicial mostra quanto dinheiro as amigas iniciaram o dia e a última, a cifra de quanto conseguiram aumentar ou diminuir ao final do episódio. Pois eu comecei o dia perdendo uma nota na máquina de lavar e encerrei o dia recebendo o mesmo valor do primo Junior. Não vou dizer quanto é para não causar dó ou piedade nos mais abastados, nem indignação ou tornar humilhado o menos favorecido. O incrível foi ele, meu primo, ter o valor idêntico e ser a pessoa mais próxima, geograficamente. Nós dois, tão céticos, começamos a elucubrar sobre algo que não seja só o caos.

  A dor no pescoço me despertou cedo demais. Lembrei que continuava quebrada e, após levar Miranda na escola, sem capital para consumir nada além do necessário, resolvi ler algo que fosse útil: Dor nas Costas, como Tratar e Evitar. Vi que evitar não tem mais jeito e é ilusão de quem pensa que natação é um esporte que só faz bem. O que mais conheço é nadador (de competição) com problemas em joelhos, ombros, coluna. Mas os pulmões, olha, esse está sempre bom, podem acreditar!

   Estava procurando um apartamento para alugar em Santos. Enquanto isso, me hospedei na casa da grande amiga Marcia Abad, outra garota quebrada. Mas nossa situação chegava a ser pior do que de Max e Caroline, porque tenho uma filha de 6 anos e ela um de 16, totalmente por nossa conta e risco. Marcinha, uma engenheira florestal, que chamo de amiga google porque sabe de todos os assuntos, é só chamar, também andava quebrada e desanimada, pois não conseguia achar mais emprego em sua área e o que via estava muito abaixo do salário merecido. Sim, vivemos uma crise como nunca vista em nossas vidas e começamos a tentar driblá-la com risos e nos chamando de Max e Caroline. Eu sou Max, apesar de não ser uma garçonete vultar, mas pelo volume dos seios. Marcinha é Caroline, apesar de nunca ter sido patricinha, mas pela falta de volume nos seios. Assim como as duas personagens, também nos trolamos com essas características.
   Outro seriado de comédia que gostamos (aliás, é o meu favorito desde a primeira temporada) é o The Big Bang Theory. Percebemos que os mais nerds e estudiosos, também são os mais falidos. Será coincidência? Sendo ou não, chega um tempo em que o dinheiro é mais importante do que o prestígio e precisamos fazer até algo nem tão prazeroso, mas que dê grana. Da tristeza dos apertos passamos a nos divertir com pouco e ficar felizes com banalidades. Não esperamos um prêmio Nobel como o Dr Sheldon Cooper, mas queremos ser reconhecidas em nossa área, por mérito. E se um dia vierem prêmios (e pagos em cash) serão muito bem vindos.

   Então olhando no calendário vi que terei alguns feriados com minha filha Dora e as idas e vindas para Ribeirão Preto, seguidas de outras viagens e estadias e passeios, ficarão bem caros. Ontem mesmo avisei Caroline: “Não sei se você percebeu, mas não mudarei daqui antes do final de maio”. Tudo bem, já está se tornando uma sátira essa vida dividida. O pior era a convivência entre Miranda, de 6 anos e Dionísio, de 16. Mas como ele tem uma irmã de 7 anos, por parte de pai, e Mi tem uma de 13 que pouco vê, é uma forma de perceberem como seria esse convívio entre crianças e adolescentes. Dio joga esses jogos cheios de histórias da Era Medieval, Miranda virou sua assessora para armaduras e garotas bonitas. Fez até que ele tivesse dois filhos no mundo virtual, muito a contra gosto. "Miranda, pra quê ter filho? Você não vê como nossas mães tem trabalho?". Dionísio é um bom garoto. Sabe das coisas.
   
  No fim a vida não passa de uma imitação da arte. No nosso caso, é imitação dessa cultura pop que não temos vergonha em admitir o quanto gostamos. Mas Marcia está há um mês em novo emprego, como engenheira florestal... mas essa é história para outro post, já que a militância na defesa do meio ambiente é outra motivação que nos une. Seguimos quebradas, porém com remendos cada vez mais fortes.

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