terça-feira, 28 de abril de 2015

O Amigo do Menino João

    Quem acompanha esse blog sabe que presenciei uma tragédia pessoal no início do ano. Estava com minhas filhas em Boiçucanga (litoral norte de São Paulo), em férias esperadas há mais de 4 anos. Conheci numa manhã um garoto fora do comum, em vários sentidos. Em menos de uma hora ele me conquistou absurdamente. E no mesmo dia sofreu um acidente fatal na cachoeira de Boiçucanga. Desde esse momento não há um dia em que eu não pense em João.
   Ele tinha 14 anos e era lindo. Não era só o físico, o sorriso e os olhos brilhantes, tinha uma beleza cheia de vivacidade e vontade de saber sobre todas as coisas. Uma inteligência espetacular. Eu tinha a certeza de que esse menino faria parte da minha vida, mas nem deu tempo de trocarmos o número do celular, faríamos isso na noite de fogueira e violão, que nunca aconteceu.
   Mas o que mais me faz lembrar dele não é a fatalidade, não é me sentir de certa forma culpada por indicar o caminho em que o levaria à morte. Penso nele todas as vezes que vejo adolescentes enredados no computador, que não olham para os lados nas ruas porque preferem olhar o virtual do celular. João olhava nos olhos, perguntava sem medo e tinha uma admiração pela mãe, sem a menor vergonha de dizer que era sua "ídola", que a amava e seguia seu exemplo. Um amor nos olhos quando olhava para ela que não vejo na minha filha adolescente. Uma energia e vontade de fazer tanta coisa que não vejo em quase ninguém.
     E mais estranho ainda é que muitas vezes escuto alguma música e penso se João gostava ou conhecia tal banda. Muitas vezes eu ainda choro pensando nele. Na noite seguinte do acidente, fiquei horas conversando com Dora, que chorou falando dele. Sensível que é me disse com voz engasgada: "Se nós, que conhecemos o menino em um único dia estamos assim, imagine os amigos da escola, do esporte, da música e toda a família". Não, eu não conseguia mensurar isso.

      Mas numa tarde em que eu estava particularmente triste, quando perdi a confiança em mais pessoas e em mim mesma, vi um comentário no blog, justamente no post sobre o menino João. Era um amigo dele, que não imagina o quanto me confortou e como me fez de novo acreditar no amor e na bondade das pessoas. Talvez seja uma prova que João não era mesmo deste mundo, talvez fosse um anjo mostrando que a vida é o agora e só o agora é realmente importante. Ele cantou "que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se parar pra pensar, na verdade não há". E não houve amanhã para nós, não houve nem a noite combinada. Mas ele demonstrou o amor no tempo em que esteve comigo. Um amor que tenho a certeza que espalhou nos seus 14 anos de vida. E acho que não só ele era um anjo, mas fazia parte de uma legião angelical e fez seu amigo Arthur Henrique chegar até mim e me tocar com as palavras, que dividirei com vocês. Porque só o amor e a morte são capazes de modificar tudo.
    


Adriana, Não sei se acredita em Deus ou em destino, mas temos diversas coisas em comum:

.Sou estudante de jornalismo e amo esses "relatos do cotidiano"
.E conheço João, sou vizinho e amigo bem próximo dele.

Pulando de blog em blog acabei achando o seu e não acreditei no que vi: "Um texto sobre o João", pensei. Me recusei a acreditar até lê-lo...

Sabe, conheci João na escola. Não estudávamos na mesma classe, mas sempre nos "esbarravamos". Uma partida de futebol foi o suficiente para começar uma efêmera, porém significativa amizade. Sempre conversávamos sobre Fórmula 1, Rock e Guerra Mundial (assunto que ele entendia muito bem, por sinal).

Quando me formei em Dezembro de 2013, ele me perguntou se eu o abandonaria quando fosse à faculdade. Disse para ele parar de falar besteira e falei que nunca abandonaria meu irmãozinho (ele sempre me chamou de manão). No decorrer do ano passado, sempre nos falávamos e nos encontrávamos quando dava, nossa amizade foi crescendo muito e sempre o considerei demais, se tornando inclusive meu confidente (e vice-versa).

No dia 8 de janeiro, estava comemorando o aniversário da minha irmã quando recebi a ligação do acontecido. Nunca chorei e fiquei triste na minha vida como naquele momento: "Deus tirou meu maninho de mim", dizia.

Adriana, Não sei se acredita em Deus ou em destino, mas eu ter encontrado este texto "por acaso" não foi para mim coincidência! E não sabe o quão estou agradecido... Você, em pouquíssimo tempo que o viu, o descreveu perfeitamente. O menino que nunca tirava o sorriso do rosto, sempre tentando alegrar. Falante (demais kk) e no meu ver uma das almas mais puras que o Mundo teve...

Estou tentando agradecer, mas acho que estou escrevendo demais... é que amava tanto meu amigo que quero que saiba que o ocorrido não foi sua culpa ou de ninguém...Era pra acontecer e poderia ter ocorrido comigo, com suas filhas, com qualquer um...

Acredito em Deus e agradeço muito por ter chegado aqui e ler seu maravilhoso texto...Quero que saiba que deixou um amigo do menino que descreveu muito feliz e relaxado. E quero que saiba que Joãozinho foi um menino espetacular e ele está eternizado em minhas lembranças e em meu coração...

Muito Obrigado, Adriana

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