quarta-feira, 8 de abril de 2015

Confiança

   Lá no começo da década de 1990 conheci a obra de Hal Hartley. Entre seus curtas e longas, me encantei com o filme Confiança (Trust, 1990), se fosse cineasta, roteirista ou escritora, queria ter feito algo parecido. Seus filmes são perfeitos na estética, na montagem, nos personagens filosóficos, desajustados e apaixonantes que cria. E nas trilhas sonora que escolhe, com todas as bandas dos anos 90 que gosto (Pavement, Sonic, P.J. Harvey). Nesse filme conheci o ator Martin Donovan, por quem arrastei uma paixão platônica anos a fio. Confiança é uma história de amor improvável. Uma adolescente é abandonada grávida pelas pessoas mais próximas e que mais confiava. Encontra estrutura e amor no homem mais velho (Donovan) que o acaso coloca em seu caminho. Toda essa introdução para falar que confiança é a base de tudo. Sem confiança não há amor, não há amizade e poucas chances de haver vida.
   A primeira vez que perdi a confiança foi aos 13 anos. Tinha um diário onde colocava os fatos da minha vida, as relações, as aspirações, os sentimentos e treinava a escrita. Um dia, numa discussão banal entre mãe e filha, minha mãe disse que mesmo eu não contando nada, sabia tudo o que eu fazia e pensava, pois lia meu diário (que eu guardava numa gaveta, bem escondidinho). Rasguei todas as páginas, indignada, fato que lamento muito, porque lá haviam muitas pérolas e histórias incríveis. Depois perdi a confiança em alguns namorados que não me contavam a verdade, mesmo eu sendo tão sincera. Então tive uma filha com alguém que eu não amava, mas que tinha amizade e carinho. Esperava ter uma relação saudável para criar uma filha saudável. Daí essa pessoa acabou de vez com minha confiança, inclusive em mim mesma. Porque uma mãe pode esperar até o abandono do pai do filho, mas jamais que invente calúnias para tirar o filho. Jamais que afaste indeterminadamente o filho.
   Talvez depois disso eu tenha me tornado uma pessoa que não se apega, que aceita tudo, não exige nada. Mas que não aprende. Ainda esse ano fui enganada por uma suposta amiga, que também era minha advogada. Agora eu sei porque minha ação demorou tanto. E outras ações estão em meu nome, sem eu nem sequer ter assinado nada.  Mas a justiça é feita, de um jeito ou de outro.
    
   Incêndio - Santos está pegando fogo há quase uma semana e não há previsão para conter as chamas. A imprensa não deu muita importância ao fato nos primeiros dias, afinal era feriado e morreu o filho do Governador (não diminuo a dor de seu luto, até porque conheci dona Lu e seus filhos e, mesmo se não tivesse conhecido, respeito a dor de qualquer família nessa situação). Mas foram três dias para criar uma equipe para administrar essa crise. No começo nem se falava em desastre ambiental, mesmo com o mar recebendo dezenas de milhares de peixes mortos. As partículas de gases poluentes se espalham pela Baixada Santista, haverá chuva ácida. Há risco para a população sim e o que está sendo feito é resfriar os barris ao lado dos que pegam fogo, para não haver uma explosão em cadeia. Já se fala sim em evacuar a área dos bairros próximos.
    O Governador está em luto, mas há uma equipe inteira no Governo que deixou a cidade, que tem o porto mais movimentado da América Latina, como um nau sem direção, uma pequena embarcação perdida no meio do oceano sujo de petróleo. O prefeito fez selfie entregando ovo de Páscoa para os bombeiros!
   Não confio na imprensa, não confio nos administradores da crise, nem no Governo. Confio no trabalho incessante dos bombeiros e na boa vontade das pessoas que acreditam que tudo vai dar certo. Mas eu, infelizmente, não sou uma dessas pessoas. Perdi a confiança em quase tudo. E acho justo que as pessoas também não confiem em mim.

Trailer de Trust https://youtu.be/pIgv4Tvx3V0 
   
  

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