Nasci na Santa Casa
de Santos, sábado de Sol, no dia 20 de junho de 1970, um dia antes do Brasil
ser tricampeão na Copa do México. Diz a lenda que médicos e enfermeiras só
falavam no jogo. Deram anestesia geral na minha mãe, Laura, porque eu era a
primeira (e única) filha e no mês seguinte ela completaria 35 anos. Mesmo com
pressão normal, acharam que era gravidez de risco, por conta da idade. Meu pai,
Abel, apesar de português, torcia como o mais fanático tupiniquim para essa
Seleção de estrelas.
O bebezinho ficou
ali, no meio da torcida do Hospital. No dia da final também, fiquei lá ouvindo
gritos e fogos, isso deve ter ficado no meu inconsciente. Não consigo assistir
nada sem torcer. Se ligar a TV e estiver passando um jogo Kosovo e Antuérpia,
vou acabar torcendo para algum e isso em qualquer esporte. Também nasci perto
da Vila Belmiro e na época Pelé era ídolo mundial, mas era na minha praia que
ele jogava! Mesmo assim nunca tive um time definido.
Confesso que em 1977 quase
virei corinthiana, porque queria ser do contra e não achava que deveria torcer
para o Santos “só” porque nasci na cidade e porque Pelé jogava lá, oras. Então
decidi que torceria para o campeão paulista daquele ano. E não é que o
Corinthians, após amargar 23 anos sem título, vence o campeonato? Mas não
adianta, meu coração não é corinthiano... sou santista da gema, fazer o que?
Sempre adorei esportes, praticar, torcer, vibrar, gritar! Acabei virando
nadadora porque meu pai foi nadador, mas acabei me apaixonando por natação (e
por nadadores) e, com minha baixa estatura, não dava para ser outra coisa,
não.
Na Copa de 1982, entendi a paixão
nacional. Tinha 12 anos e cada jogo aumentava a torcida, assistia sempre com a
turma da natação, no Clube de Regatas Vasco da Gama ou na casa de alguém com
mãe que não se importava de alimentar com lanchinhos gigantes uma equipe de
nadadores famintos. O último jogo, que eliminou o Brasil, foi na casa das irmãs
Rosana e Renatinha. Dona Therezinha era mesmo uma santa!
Comecei a entender um
pouco mais de futebol, virei fã de Sócrates e Zico. Quando fomos eliminados até
chorei, até hoje não sei se porque achei injusto aquele time não ser campeão ou
porque não teria mais a torcida com a galera da natação. Restava voltar a
torcer nas piscinas...
E então Serginho Chulapa começa a jogar no Santos e
assim me defini como torcedora santista. Para completar minha saga com o Peixe,
fiquei amiga de Fábio Diegues e parte da turma da Sangue Jovem, no começo dos
anos 90, reunia-se na casa do Fábio, antes dos jogos na Vila. Fui totalmente
contaminada. Na mesma época me apaixonei por um fanático por
futebol, um certo chileno corinthiano. E para poder discutir com propriedade
até aprendi o que era impedimento! Sim, Chico, saiba que você é responsável por
eu saber mais sobre futebol. Eu queria impressionar, sendo uma garota que
entedia de futebol.
Na Copa de 94 eu morava em São Paulo, num apartamento decadente apelidado de Bronx (esse é um post à parte), no bairro do Paraíso. Dividia com uma amiga, que tinha um namorado santista tão fanático que seu apelido virou um sobrenome: Marco Bola. Todos os jogos eram assistidos neste apartamento, com a presença de todos os ilustres ex-moradores, a maioria santista. E já que brasileiro é um povo supersticioso mesmo, Bola fez até um altar para o Romário, que ficou na sala até a final, e em cada jogo, cada um levava uma nova mandinga. E no dia da decisão dramática por penaltis muitas lágrimas rolaram nas faces de Tiko (Rocha) e Daltão (Vighi), tenho tudo gravado!!! E o resto é história.
Na Copa de 94 eu morava em São Paulo, num apartamento decadente apelidado de Bronx (esse é um post à parte), no bairro do Paraíso. Dividia com uma amiga, que tinha um namorado santista tão fanático que seu apelido virou um sobrenome: Marco Bola. Todos os jogos eram assistidos neste apartamento, com a presença de todos os ilustres ex-moradores, a maioria santista. E já que brasileiro é um povo supersticioso mesmo, Bola fez até um altar para o Romário, que ficou na sala até a final, e em cada jogo, cada um levava uma nova mandinga. E no dia da decisão dramática por penaltis muitas lágrimas rolaram nas faces de Tiko (Rocha) e Daltão (Vighi), tenho tudo gravado!!! E o resto é história.
Isso me ajudou muito na minha meteórica passagem na TV
Tribuna, de Santos. Como repórter fazia matérias sobre os Meninos da Vila, uma
safra que começou a ser a renovação do Peixe, com Giovane, Jameli e Gallo, entre
outros craques. E minha primeira filha nasceu em 2002, ano em que o Santos F.C.,
já com Robinho e Diego, foi campeão brasileiro e a Seleção pentacampeã!
Coincidência ou não voltei a morar em Santos na Era Neymar - sim, ele
finalmente encerrou a Era Pelé e iniciou sua própria Era. Para completar estou
escrevendo sobre Djalma Santos, o melhor lateral direita que este País já teve
e um dos homens mais admiráveis que já conheci. Tenho visto e revisto jogos e
jogadas das Copas de 54, 58, 62 e 66. E cada vez gosto mais desse universo, que
mudou muito, muito mesmo.
Hoje é aniversário de Djalma, já liguei para
parabenizá-lo pelos seus 83 anos. Ele agradeceu muito a minha lembrança, mas quem tem deve agradecer sou eu, por
ter a oportunidade de compartilhar o que foi e o que continua sendo essa vida
incrível, cheia de lições, aventuras, tristezas e muitas alegrias.
E vejo que
Neymar, um craque de 19 anos, já é um milionário, com herança para séculos de
descendentes. E vejo Djalma, com 83 anos, levando uma vida digna, porém
modesta, por tudo que é e representa para o futebol mundial. Um homem que tem uma Fundação com seu nome e
corre atrás de patrocínio para uniforme e chuteiras para seus discípulos. Que
ainda faz propagandas para aumentar sua renda e poder pagar o plano de saúde.
Às vezes penso que somos a pessoa certa, mas na época errada.
Adriana, um relato emocionante e sincero sobre a sua paixão pelo futebol. Não acredito que você registrou as Copa de 94 no Bronx. Adoraria poder rever essas fotos ou videos. Simplesmente histórico! Beijos e parabéns pelo texto.
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