terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Vida Sem Dora

    Não tivesse o tempo tanta importância, eu não sofreria desta forma mórbida. Chega perto uma data de nascimento e morte. Dia 9 de fevereiro completa 10 anos que nasceu Dora. Dia 10 um ano que foi arrancada de forma brutal da minha vida. E tudo que era seu continua aqui, no mesmo lugar. Como o quarto do filho que morreu. Não há mais sua voz, sua música, nem sua brilhante presença. Dora está viva, mas dela só restam lembranças e um passado distante.
    Para Miranda, que irá completar 3 anos no próximo dia 16, a irmã é como um fantasma. Por diversas vezes me vejo comparando atitudes, aptidões e preferências entre as duas. Miranda já não fala mais para eu “parar de ficar triste porque a Doinha vai voltar”. Agora quando eu digo que vamos viajar para determinado lugar, mas esperaremos a Dorinha voltar, determina: “Não vamos esperar, não, mamãe. A Doinha tá demorando muito”. Essa é a sabedoria inata do ser humano, que na maioria das vezes mingua após a infância.    
    Miranda me mostra que preciso continuar vivendo mesmo sem Dora, porque, se continuar assim, acabarei não vendo nenhuma das duas crescer. E é tão doloroso viver oficialmente afastada da filha, por vontade da família dela, com autorização judicial para nos separar indeterminadamente... tão triste não poder ir até a escola Albert Sabin de Ribeirão Preto ou em alguma apresentação do Ballet Carla Petroni, porque Jonas Golfeto, o pai, ou os avós, José Hércules Golfeto e Ed, podem chamar a polícia (como os avós já fizeram).     
    Não posso imaginar Dora tanto tempo sem me ver e ainda ter que presenciar a polícia me levando, como uma criminosa. E os novos amiguinhos vendo tudo isso. Não, iria desmoronar de novo sua vida. Sua nova vida, que está prestes a completar um ano! Será que irão comemorar os 10 anos de Dora ou 1 ano da nossa separação? Da aparição de Jonas Golfeto em rede nacional, pela TV Globo? Os nefastos tem muito a comemorar.
    E há um ano todas as pessoas que faziam parte da vida de Dora foram brutalmente assassinadas. Como se um grande Tsunami tivesse banido a Baixada Santista e todo o litoral paulista e fluminense. Como se não houvesse tecnologia capaz de conectá-la aos amigos bloqueados de sua vida.
    Que o magistrado não entenda isso, já que são tantos processos e ações e burocracia e casos até piores, até vá lá. Que juiz e promotor tirem uma da minha cara, dizendo que essa ação só vai acabar em Brasília e que minha filha completará 18 anos antes, suporto. Mas como os avós, psiquiatra e psicóloga, não são capazes de entender a monstruosidade que estão fazendo com tantas vidas? E até com suas próprias vidas. Não acredito que alguém possa ser feliz agindo desta forma. Matando todas as pessoas que existiram para Dora. Matando Dora para todos os seus amigos!
    Enquanto isso vivo de lembranças de tempos livres, das viagens que fiz com Dora, parando em praias lindas, remando até ilhas, dormindo em barcos na noite de lua cheia. De seu desejo precoce em ser bióloga marinha. Em que praia agora ela alimenta essa vontade? De quando dançava pela casa e pela rua, vivendo eternamente um musical. Eu só queria poder me despedir da minha filha e poder abraçá-la mais uma vez.
    Pedi para minha advogada que fizesse uma liminar para que eu pudesse abraçar minha filha no dia 9 de fevereiro, quando ela completa 10 anos. A reposta é que pedido para judiciário tem limite. Pedir para abraçar minha filha, após um ano, no dia do seu aniversário, é passar dos limites...

4 comentários:

  1. Nossa quanto carma esta família está adquirindo... qto sofrimento... e pior, eles estão protegidos por uma justiça corrupta e por juizes que se vendem. É nítido! só não ve quem não quer. E olha que nem é preciso ser "doutorado" pra enxergar todo esse horror. Acho que os cidadaos de bem desta da cidade de Ribeirão Preto deveriam se reunir numa cruzada qto ao verdadeiro valor da vida: o amor!

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  2. Querida amiga, me solidarizo a vc.Também vivo esse momento, e saiba..não é tão lindo. Já fez um ano e dois meses.Após o divorcio, assistindo tantos pais abandonarem os filhos, decidi que com as minhas filhas isso não iria acontecer. Quase que obriguei que ele as visitasse e passassem todos os finais de semanas com ele.A Jaq, tinha 3 anos..foi um erro capital. Ela conviveu e criou vínculos afetivos com a nova familia. Onde lhe apresentaram o "ter", o mundo de fantasias, as facilidades de se obter coisas..etc..Ela se transformou numa criança, egoista, prepotente, criava conflitos com a irmã e comigo o tempo todo. O pai entrou com o pedido de transferência da guarda, alegando negligência, fato que nunca conseguiu provar por ser uma inverdade. Ela passou por avaliação com as psicólogas e assistentes sociais do forum. Avaliaram que ela estaria melhor na companhia do pai. O juiz me disse: Só Deus tira ela de vc.mãe, mas pense nas consequencias que virão, uma adolescente na sua companhia, sonhando como deveria ser a outra vida. Ouví dela, que sua vontade era morar com o pai, e aproveitar todas as oportunidades que ele estava oferecendo. Com dor no coração, respeitei a escolha dela, com a promessa que não mudaria nada, só ficaria a semana, e os finais de semana comigo,encontros esses que nunca aconteceram. Tivemos outra audiencia, onde ele alegou, que ela tinha trauma e odio da mãe. que precisava estar preparada pela psicologa renomada que ele contratou. Fiz inumeros B.Os, esperei infinitas horas no portão do prédio deles, ele a tirava de S.P.e me deixava incomunicavel. Choro algumas noites, de saudades, dos momentos felizes que passamos juntas. A mais velha mora comigo, e é o meu consolo.Dia 21/02 ela fará 12 anos, e não estarei junto para comemorar, assim como, não estarei próxima qdo tiver a primeira menstruação, não ouvirei os sonhos, nem saberei das pequenas inconsequencias pertinentes ao adolescer. De vez em qdo, ela me envia um torpedo, escondido no cel. de amigas de escola, perguntando se estou bem..respondo que só estarei bem, o dia que abraça-la novamente.Tenho fé em dias melhores, e nunca, nunca mesmo, perco a ESPERANÇA, qdo ela se tornar adulta ...quem sabe?Grande beijo, em seu coração, vc não está sózinha.

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  3. É como te falei no e-mail..
    Cada vez que leio essas coisas..
    Tanto as suas 'escrituras' quando a da mãe aí em cima..
    Não tem como, não ter a sensação de que estão falando da minha história.
    Aí eu paro pra pensar..
    São vidas completamente diferentes, situações completamente diferentes...
    Mas tanta coisa se repete, pra tanta gente!

    É difícil pensar no que o próprio filho se tornará.
    é dificil ver em quê tá se transformando.
    às vezes, penso: "Que sorte que meu filho protege os animais ou defende a água do planeta!"
    E acabo esquecendo da dupla personalidade adquirida, por viver em processo desde que tem 1 ano, hoje tendo 7!

    Outro dia, eu vi a 'outra personalidade' dele ativa.
    Ele tava no ambiente de lá, mas comigo.
    E quando isso acontece, ele fica confuso...
    Resultado? deu uma misturada nas coisas..
    E eu nunca fiquei tão assustada com meu próprio filho!
    É o avesso do que ele é quando está comigo e com minha família.
    AVESSO!

    Ele deixa de ser o menino defensor dos animais e da água do planeta.
    Tão indefeso e inocente..
    E passa a ser o vilão entre os amiguinhos da escola.
    Se tornou uma criança mentirosa.
    É triste! é doloroso.
    Principalmente, você perceber.. que nenhum dos valores morais que você ensina ao seu filho.. está sendo absorvido.
    E que o outro lado, são todos psicopatas/sociopatas. E não tem valores.
    E assim o tempo passa...
    E é muito doloroso...

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