terça-feira, 8 de janeiro de 2013

27 de dezembro de 2012, bem vindo Daniel!

   Entre as concessões feitas para encontrar Dora estava parar de escrever neste blog. Mas parar de escrever seria muita repressão, além de ser uma falta de respeito com as dezenas de milhares de pessoas que acompanham essa saga. Porém, para não dar margem a mais confusão e desavenças, decidi parar com postagens referentes ao processo, Dora e sua família em Ribeirão Preto. Afinal, a vida segue com muitos acontecimentos diários, cheios de coincidências e analogias. E ainda há tanto para ser escrito e contado. E é uma forma de trocar experiências, evitar que outros cometam meus mesmos erros.
  Tanto aconteceu desde o último dia 19 de dezembro, quando finalmente encontrei Dora. No mesmo dia completou um ano em que Adriana Botelho, mãe de Maria Clara, não via a filha. Foi muito simbólico isso. Não pude parar de pensar nela, porque sei como são essas datas, a dor que ela estava sentindo, o vazio, a indignação, a imensurável saudade. Também pensei muito em Natália Nogueira, que passou 2 anos e meio sem ver seu filho, arrancado injustamente de sua convivência aos 2 anos de idade. Quando Natália viu de novo seu filho, era uma outra criança. Me senti exatamente como ela, quando me descreveu seu reencontro. Adriana mora em Salvador, Natália em Recife. Não conheço essas mães pessoalmente, mas graças a esse blog pudemos reunir nossas histórias, dividir nossas angústias, somar nossas esperanças, espantar o medo.
    Com esse blog também recebo mensagens de pessoas de todo o Brasil, hoje adultos, que sofreram alienação  parental na infância. Recebi mensagem até de uma menina de 12 anos, que identificou-se com Dora, que sofre pela insensatez dos adultos. Mas não posso escrever sobre isso, então escreverei sobre algumas sincronias familiares.

   A família de meu pai é muito pequena. Meus avós, Maria e Manuel, vieram de Portugal trazendo seus dois filhos, Felipe, de 12 anos, e Abel, com 10. Meu pai me teve apenas e meu tio teve Ana Maria, que não teve filhos, e Felipinho, pai de Izabela. Sobrou para mim. Tornei-me a reprodutora da família, com duas filhas. E também para Iza, que conheceu David, um homem que admiro muito. Primeiro tiveram Luiza e logo quiseram outro filho: 1 ano e 4 meses depois nasceu Daniel, no dia 27 de dezembro de 2012, um ano após a morte de meu pai. Por essa feliz coincidência, uma data que seria de saudade e tristeza, tornou-se um dia de comemoração e esperança. A família Mendes cresceu e Daniel trouxe consigo tanta alegria e amor. Esses queridos moram distantes e não pude ainda ver de perto o pequeno grande Daniel, mas de longe já vi sua beleza, seu corpinho repleto de saúde. 
    Outro acontecimento triste marcou a mesma data: o pai da minha querida amiga de infância, Beth Yumoto, faleceu por problemas causados pelo Mal de Alzheimer, assim como meu pai. Seo Osmar nasceu no mesmo dia de minha mãe (11 de julho de 1935) e morreu na data de meu pai, um ano depois, jamais esquecerei esses dias. Dona Dora, a querida mãe de Beth, inspirou o nome da minha filha. Que laços tão estreitos unem nossas famílias. Mesmo longe estamos sempre tão perto.
   A Incrível Beth, apelido carinhoso dado por mim, era uma das minhas melhores amigas de infância, nadávamos juntas. E quando mudou-se para Itajaí, em Santa Catarina, fiquei muito triste. Tinha 13 anos e com essa idade nunca queremos nos separar de nossos melhores amigos, é um aperto tremendo, uma falta doída. Para Beth foi ainda pior: mudou de escola, de clube, casa, círculo de amizade inteiro. Para compensar a distância nos falávamos ao telefone quase todos os dias e escrevíamos cartas imensas, divertidas, que tenho guardadas até hoje. Mas a distância nos aproximou ainda mais. Comecei a passar todas as minhas férias de verão em Santa Catarina a  partir de 1984. E Beth passava o inverno em Santos, na minha casa. Nossas mães ficaram mais próximas e até hoje temos um carinho imenso uns pelos outros.
     Outro encontro inusitado se deu também no dia 27 de dezembro, no Teatro Aberto, um espaço cultural no centro de Santos. Estive lá com meus amigos Marcelo Santos, Maria Paula Alves e Marcia Abad, numa daquelas infindáveis reuniões entre amigos que acontecem no final de ano. Era o show de Daniel Nunes. Não levei Miranda, pois achei que seria só para adultos. Para minha surpresa, havia uma linda e encantadora menina, carismática que só ela. Era seu aniversário de 2 anos e com toda a desenvoltura pegou o microfone, puxou seu próprio "parabéns para você", agradeceu os aplausos como quem vive nos palcos. Enfim  percebo que ela é neta de Rosa Bertholini e filha de Ludmila Corrêa, irmã de meus amigos André e Georgia Corrêa. E Rosa eu conhecia desde os anos 80! Estava na mesma mesa de Rosa e Ludmila e não tinha me dado conta!
    De quantos momentos bons é feita a vida! Emaranhados de destinos selam tantas amizades. Que sorte eu tenho por ser quem sou, ter nascido onde e quando nasci e assim continuar reencontrando essas pessoas tão especiais e conhecendo os que estão chegando. O círculo da vida é infinito e o universo continua conspirando a meu favor.