quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Não Tolero Intolerância

São tantas causas para abraçar no mundo e a vida é tão curta que abandonei a causa das mães. Não que eu tenha desistido de enfrentar o Judiciário corrupto, machista e injusto, mas porque outras mães estão na linda de frente. E me representam muito bem. Nesse ano que passou sem que eu me animasse a escrever nesse blog, muito foi feito. O Mães na Luta foi criado, formatado e está na ativa. Fez manifestações em Brasília e quer derrubar a Lei de Alienação Parental. O que fiz nesse tempo todo? Continuei nas minhas lutas de toda a vida: pela igualdade, onde sempre me encontrei no feminismo; e a defesa dos animais, que não tem voz para serem defendidos.

Mas nesse ano de eleições e com o assustador crescimento do fascismo, em que sempre as maiorias minorizadas pela sociedade são perseguidas, o ativismo aumentou e meio que tomou conta de todos os meus dias. Me tornei integrante do Vote Nelas, que promove a eleição de mulheres no Legislativo. Eu quero me ver representada no Congresso Nacional e em todas as Assembleias do País. O Vote Nelas é suprapartidário, porque o Brasil é imenso e uma candidata socialista pode não representar aquela mulher mais conservadora e vice-versa. Você sempre vai achar uma mulher que te representa. Só não vai achar, no Vote Nelas, mulheres que apoiem a extrema direita, que representa o fascismo, porque essas não nos representam.

E esse foi o motivo de voltar a escrever nesse blog. Não podemos ignorar o movimento orgânico, democrático e suprapartidário que nasceu no Mulheres Contra Bolsonaro. Entrei nele quando era "só mato", com pouco mais de 60 mil mulheres do Brasil. Hoje passa dos 3 milhões. E agregou vários outros grupos que se encontrarão num grande Ato Contra o Fascismo, marcado para 29 de setembro.

O que me impressiona nesse movimento é ver, em redes sociais, muitas dessas mães que perderam a guarda, estarem apoiando para a presidência o candidato fascista Jair Bolsonaro. Essas mesmas mães que sofreram e sofrem, assim como eu, julgamentos dos mais diversos, de quem não sabe nada a nosso respeito a não ser que perdemos a guarda de filhos. Julgamento sempre seguido por aquela pergunta preconceituosa: "Como se nem puta perde a guarda de filho?".

Tento imaginar a que ponto chegou a baixa estima dessas mulheres, que de tanto serem marginalizadas, terem sua dignidade esfacelada, seus direitos suprimidos, sentem-se mesmo inferiores ao ponto de apoiar o fascismo, apoiar quem as oprime e negligencia. Sinto que seus corações estão tão amargurados, cheios de rancor e sentimento de vingança, que só encontram saída nas armas e no ódio. Prefiro pensar assim. Muitas delas eu já tirei do meu feed de notícias, outras excluí a amizade, pois não conheço pessoalmente. A dor que nos une não pode ser maior do que o abismo político que nos separa. Não consigo ver coerência em quem sofreu e sofre com injustiça querer promover mais injustiça e desigualdade.

De certa forma, agradeço também a essas mães apoiadoras do fascista. Me fizeram ter vontade de escrever de novo e expor esse misto de decepção e tristeza que sinto. Sei, vão falar que vivemos numa democracia e podemos votar em quem quisermos. Sim, mas sempre disse que tolero tudo, menos a intolerância. E já dizia isso antes de conhecer o Paradoxo da Tolerância. Não podemos tolerar a intolerância, pois daí a tolerância deixa de existir.

Os tempos estão difíceis.

#EleNao