quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O Show de Talentos da Teia

   A Escola Teia Multicultural, em São Paulo, onde Miranda estuda, é diferente em vários aspectos e não por acaso saiu recentemente numa publicação sobre escolas inovadoras. Bem, eu conheço a Teia muito antes dela existir. Lá no meio dos "anos 80", quando conheci Georgya Corrêa na sala de aula. A garota de 15 anos, que se tornou uma das melhores amigas do colégio, não cansava de falar da escola em que estudou quando morou na Índia. E como aquele método de ensino fazia muito mais sentido na vida prática do que como aprendíamos nas nossas escolas tradicionais.
  Mas falar do surgimento da Teia é material para tese de mestrado (aliás, coisa que a Georgya já está fazendo). O que tentarei reproduzir aqui é um dos momentos únicos que essa Teia de amor, solidariedade e conhecimento proporciona a todos e qualquer um que a conheça: o tradicional Show de Talentos da Teia.
   Miranda estava se preparando para o Show de Talentos há algumas semanas. Todo dia cantava a música Nem Uma Verdade Me Machuca, da Pitty. A letra é complexa e bem profunda. Mas ela diz ter dúvidas se canta ou se faz um cati do kung fu. Incentivei a apresentar o cati, "porque todo mundo vai achar diferente", "porque se errar, ninguém vai perceber". Mesmo sabendo cantar e acertando as notas, conheço minha caçulinha e sei que, caso errasse, poderia cair no choro. Ela é exigente demais com ela mesma. Talvez eu seja exigente demais. Enfim, decidiu apresentar o cati.
   Chegar na Teia em dia de festa é uma alegria. É dia de encontrar velhos e novos amigos. De cara encontrei o querido André, irmão da Geo, que tem uma filha também na Teia. Conversamos sobre muitas coisas da vida. E como nossos encontros são breves nunca temos tempo para banalidades. Nossas vidas podem ser tudo, menos banais. Em 15 minutos falamos de carreira, de filhas, de prazeres, de sonhos, de possibilidades, de vocações.
   Então começo a ver os shows com Cauã (filho mais novo da Geo) e sua legião de tietes. Antes mesmo de cantar, acompanhado de seu pai Tanã ao violão, já era ovacionado pelos amigos. E quando pegou o microfone  para cantar Pokemon, até eu acompanhei fazendo coral. 
   Foram tantas as apresentações marcantes, que não cabem todas aqui, mas vou pontuar algumas. Quando a pequena Sofia foi chamada para cantar ninguém esperava o que estava por vir. Antes da música começar, ela disse, em tom sério e emocionado: "Essa música eu dedico para o meu avô. Ele tem uma doença, que chama câncer". Então, com voz doce e um tanto embargada, começou a cantar Teresinha, de Ana Larousse https://youtu.be/5k4cCt__hWU. São poucas as pessoas que não tenham um caso próximo, ou mesmo distante, com o câncer. Eu chorei. Olhei ao lado e duas mães choravam. Muitas crianças choravam. Não sei se pelo avô de Sofia ou pela música linda, cantada de forma suave e, mesmo com lágrimas, até o fim. Muitos abraçavam crianças, que também choravam e já nem sabiam porque. Sabiam que ali alguém sentia dor e queriam dividir essa dor. Porque, de alguma forma, já sabem, que a dor dividida, diminui.
   Depois de Sofia, foi a vez de Tsu, um menino encantador. Percebi que ele não sabia bem como começar, como transformar aquele tanto de lágrimas em risos. Pegou o microfone com sua voz rouca e seu jeitinho charmoso e cantou Mais Ninguém, da Banda do Mar https://youtu.be/61jSSF3Vu54. E o ambiente foi tomado por um clima de amor e música, bem ao estilo Mallu Magalhães e Marcelo Camelo. Muitos aplausos, ainda algumas lágrimas.
    Quando o menino Martin fez o seu tradicional show de mágicas, pediu assistentes. Todos levantaram as mãos, mas, claro, ele chamou essa que vos escreve para ser "hipnotizada". E lá estava eu, sendo hipnotizada, desaparecendo atrás de um lençol e, por mais que o outro assistente tenha me deixado aparecer, todos aplaudiram como se Martin fosse o mago dos mágicos.
   Algumas patinadoras, bailarinas, menina da fita, interpretações depois, vem o irmão de Tsu, o pequeno Petrus e mais três colegas, cantando cheio de malandragem e swing Nem Vem Que Não Tem, do Wilson Simonal https://youtu.be/ssHV0eTCeTc. As lágrimas passaram a ser de excesso de riso. Foi hilário!
   Algo transformador e, ao mesmo tempo, tão simples, nesse Show de Talentos, é que a palavra talento foi usada em sua forma mais esplêndida. Talento não é apenas um dom, algo que alguns nascem com e outros sem. O talento pode ser genético ou ser desenvolvido. Ter talento não é ser o melhor no que se faz. Mas é ter habilidade para algo, que pode ser artístico, físico ou mental. É gostar de fazer e fazer, mesmo não sendo um virtuose. Muitas vezes temos talento para alguma coisa, mas nunca descobrimos. A Teia desenvolve talentos natos e aflora talentos que nem imaginávamos existir. E o mais emocionante na apresentação dessas pequenas criaturas é o entusiasmo, a forma como um incentiva o outro, como um amiguinho torce pelo desempenho do outro. E aplaudem! E dão urros! E vibram! E sentimos a vida pulsando e uma tremenda esperança nessa geração que está crescendo com valores realmente humanos. 

   Ah, sim, Miranda apresentou seu cati, ficou chateada porque errou, mas eu disse que ninguém percebeu que ela errou, nem eu. E a menina Sofia, que emocionou a escola inteira cantando Teresinha, veio parabenizar Miranda:" Você arrasou!". E eu, como sempre, me emocionei.

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