quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mantenha Seu Brilho

  Como não é sempre que estou disposta a falar da dor e da saudade ou do processo pérpetuo (até que atinja - Dora ou o processo - a maioridade), esse blog era pra ser uma forma de contar aos amigos mais próximos o que estava se passando, comigo e com as pendengas judiciais. Também uma forma de desamarrar o nó. Tentar entender, dar um fio na meada, costurar essa história. Porém percebo agora que mais que tudo é para Dora. Só ela importa nesse momento, a maior vítima de tantos erros e intolerância. E há quanto tempo essa forte menina passa por tanto desrespeito aos seus direitos de criança? Há mais de 6 anos e tem apenas nove. É ela quem precisa entender como os adultos transformam sua vida sem perguntar o que sente ou pensa. E qual motivo fez chegar ao ponto do insustentável. E porquê de novo teve que largar a vida dela para ingressar em outra vida, levando dela só ela mesma.
  Ainda bem que tenho tudo guardado, Dora já lia e terá maior entendimento ainda no futuro, que seu pai falava de acordo por emails, exigia nossa mudança para São Paulo para partilhar guarda... mas foi lá com busca e apreensão, tirou Dorinha no meio da aula e levou para morar com os avós em Ribeirão Preto. Ou seja, queria transtornar mais ainda nossa vida, obrigando a fazer uma mudança para São Paulo para depois levá-la para o interior. A intenção clara é afastar Dora da mãe, irmã, amigos, cidade... a tal alienação parental declarada! E enquanto escrevia sobre acordo, enquanto gastava horas do tempo do promotor Alfonso Presti sobre acordo, entrava com novo processo, para a Destituição do Poder Familiar - já extinto graças ao juiz de bom senso. Tão evidente o empenho da outra parte em separar mãe e filha, para sempre.

Crescendo rápido

  É muita coisa para uma criança! Como lidar com a proibição de falar com a mãe? Não poder mais ver sua querida irmãzinha e suas melhores amigas? Como Dora aguenta tudo isso? Eu sou mãe de Dora e a pessoa que mais a conhece e mais conviveu com ela em sua ainda curta, mas já tão expressiva, conturbada e singular trajetória. Dora tem inteligência acima da média. É popular, sociável, talentosa e sábia. Mesmo sendo tudo isso, ainda é uma criança e o tempo para ela corre diferente. Há 70 dias foi arrancada de tudo o que ela tinha e levada para morar em Ribeirão Preto, com os avós, obrigada a adaptar-se bruscamente, sem conversa sobre mudança, sem avisos ou recomendações e ficar lá, sem poder falar com ninguém do seu convívio, de sua rotina. Proibida, cerceada, monitorada! Para Dora esse tempo é interminável, ela não sabe o que está acontecendo aqui na casa dela, com as coisas dela, a vida dela, os amigos, a cidade. Se é difícil para quem está aqui, mal posso imaginar como está sendo para ela, sua angústia e insegurança. Seu coraçãozinho tão jovem e já tão martelado com o prego da saudade.
  Mas ela precisa saber que ninguém nunca e jamais a esquecerá. Que sua irmãzinha Miranda fala dela todos os dias. Que eu tive que tirar suas fotos, pois Miranda fazia beicinho e chorava! Ela vê perua escolar, aponta e fala: "Doinha!" e fica muito feliz quando a Raquel, melhor amiga da Dora, vem em casa. A doce e meiga Raquel, com sua inesgotável paciência, brinca com Miranda, que afoga em Raquel a saudade de Dora. Miranda não esquece Dorinha e não tenho mais como dizer que Dorinha foi passear. Que passeio mais demorado mamãe! Deve ser o que fala em mirandês.
  Saber que o ballet do Municipal continua com sua vaga, suas professoras torcem por sua volta. Que suas colegas de classe ficaram muito tristes de não ter mais Dora na frente, para poder seguir seus passos. As amigas sentem sua falta, me enchem de perguntas sobre Dora e porque não podem falar mais com ela. Tão querida, foi e será sempre assim a vida de Dora. O brilho de Dora transcende sua pessoa. Ela ilumina todos os espaços que ocupa. Agora ela está lá em alguma escola de ballet de Ribeirão Preto, estimulando outras garotas com seu entusiasmo e alegria; encantando outras professoras com sua inteligência e talento. É isso que faz Dora tão especial, a diferença que faz pelos lugares que passa. Espero que percebam isso e deixem Dora falar, que o melhor para Dora é ficar com a mãe!
  Sempre digo que os filhos devem ser criados para o mundo, de preferência, para melhorar o  mundo. Mas minha filha ainda é muito nova  para ser do mundo, eu precisava ensiná-la mais sobre liberdade de expressão, direitos humanos e cidadania. Protegê-la mais um pouco da maldade e prepará-la para enfrentar o mal. Agora ela está vivendo uma educação completamente diferente, sendo criada por pessoas estranhas, com ideias muito distintas das minhas! Quem a conhece ou esteja conhecendo agora, neste momento, verá uma menina simpática, tranquila, segura, esperta e decidida. Assim ela era até 70 dias atrás. Não imagino o que possa ser feito para tornar Dora uma menina melhor! Ao contrário, com o atual sistema de cerceamento, proibições, constrangimentos e privações a que tem sido submetida, temo muito por sua saúde mental. Ah, se a Justiça não fosse tão lenta e se não desse tantas brechas para os maus intencionados, de tempo vago... quem sabe ainda salvaria Dora de tanta ditadutra e autoritarismo.

2 comentários:

  1. Nada é oculto aos olhos do Senhor....hoje pode haver névoa nos olhos da Justiça e todos ao redor, mas esta nuvem está se dissipando e a verdade está vindo a tona e em pouco tempo a vitória do bem chegará.
    Estamos contigo....te amamos.
    Seus amigos!

    ResponderExcluir
  2. Acho que o meu amor pela escritora desse blog é indiscutível. Vivemos uma relação de amizade que já ultrapassa a barreira do som (muita trilha sonora), da luz (a verdade e sinceridade sempre) e da imagem (a beleza interior de cada um de nós). Toda justificativa antecede um opinião positiva ou uma negativa. E é incrível como temos tempo para as negativas. Mas nesse caso ela antecede um testemunho. Sei de todas as qualidades da escritora e sei dos defeitos também. Mas esse julgamento público que virou a sua vida parece que a exime de defeitos e apenas exaltamos as qualidades para amenizar essa imensa dor. Uma dor que nunca seca. Ela está nas lembranças, nos pertences que ainda estão na casa, nas indagações da maravilhosa Miranda. A Adriana tem uma qualidade defeituosa, que juntas causam tanto sofrimento: seu excesso senso de justiça, de amor ao próximo, de lealdade. Tudo isso vira um turbilhão de injustiças, sem nenhum super herói para reverter o quadro dentro do corpo dela. As vezes, amiga, precisamos aceitar uma derrota para poder olhar o campo de batalha, recolher os corpos, curar as feridas e fortalecer o corpo para a vitória final. Não temos previsão de como a guerreira mais ferida dessa batalha vai emergir dessa guerra. Não sabemos o que se passa na cabeça da Dora, mas ela vai ter todos os depoimentos, todas as verdades e mentiras esperando por uma avaliação. E quando isso acontecer mãe e filha estarão unidas novamente, sem canalhas e juízes para determinar o que pode ou não ser escrito nos altos. A certeza é que cara a cara ninguém consegue esconder o amor. Se fortaleça, viva, escreva (aqui você é imbatível) e vamos replantar esse campo de batalha...

    ResponderExcluir