domingo, 22 de maio de 2011

100 Dias Sem Dora

  Cem dias é uma data significativa demais. Tem nome de livro, de filme, de tanta coisa... mas hoje significa uma dor de 100 dias e sem fim. Significa uma sensação de angústia por não ser ouvida e por não saber como Dora está...
  Nesses 100 dias houve o pior terremoto da história do Japão, um Tsunami sem precedentes, um acidente nuclear ainda nebuloso, a morte de Osama Bin Laden, assassinatos cruéis, atirador em escola do Rio de Janeiro, mãe que deixou bebê no lixo do hospital, mãe que deixou bebê na caçamba do lixo, escândalos políticos que nem escandalizam mais. Mas também bons acontecimentos. Nasceram Fátima e Antônia, duas priminhas de Dora, filhas de minhas primas. Um dia Dora as conhecerá.
  Nos 3 primeiros dias desses 100 dias, Dora me mandou 2 emails quase taquigrafados, deu até pena, tipo esqueceram o computador ligado e ela correu para se comunicar. Me deu um telefonema 2 dias depois de ser levada, mas no final chorou muito... desligaram e nunca mais me ligou. Nesses 100 dias, Dora me mandou novo email, criado agora, na sua nova vida. Escrevi muito para esse endereço, sem resposta. Ou foi o genitor que criou e apenas ele lê, ou tem sempre alguém atrás dela para ver o que escreve e assim ela não escreve. Eu sei, ela vivia comigo!
  Nesses 100 dias procurei uma advogada, tentei descobrir o novo endereço do genitor de Dora, pois no endereço de São Paulo não era encontrado. Liguei para o avô dela, o renomado psiquiatra infantil José Hércules Golfeto. Me disse que Dora estava ótima, não sentia falta de nada, era inteligente, educada, espirituosa e muito discreta. Sim, eu sei, fui eu que a criei assim! Disse ainda que o filho dele estava entrando com os meios legais cabíveis para que eu e Dora pudéssemos nos encontrar. Sim, estava, com um pedido de suspensão de visitas, já que a ação pedindo a destituição da minha maternidade não deu em nada.
  Liguei de novo para esse avô, que não sabia o endereço do filho, " você sabe, eu e Jonas somos só meias palavras, não há muito diálogo entre nós". Sei bem, com esse seu filho nunca há diálogo, por isso deu no que deu. Por isso me separei dele tão rápido! Esse psiquiatra renomado ainda insistiu para que eu fizesse tratamento. Ora, primeiro, não sou paciente dele, jamais fiz consulta com ele, e pelo filho que tem e pela maneira que age, acho que jamais me consultaria com médico desse tipo. Acho que é outra pessoa que precisa de tratamento, mas enfim...
  Nesse tempo, a outra parte me mandou email sobre um órgão de conciliação em São Paulo (só pra juiz ver), liguei, marquei, passei para ele por email (porque ele jamais atende minhas ligações) e nada. Nesse tempo, a outra parte marcou de nos encontrarmos no Fórum João Mendes, em São Paulo, depois desmarcou, depois marcou de novo, depois desmarcou de novo. Depois marcou no Fórum de Santos, desmarcou por email 3 horas antes, porque o advogado dele não poderia ir... sempre o advogado dele, tão ocupado.
  Nesse tempo comecei a escrever esse blog e num dos textos mais inspirados - Síndrome do Amor - falei dessa associação, que fica em Ribeirão Preto. Foi quando a outra parte leu e desesperou-se porque achou que eu havia descoberto que Dora estava morando em Ribeirão Preto! Então ligou em pânico para o advogado dele, que ligou para minha advogada, que entendeu que eu estava na porta da casa dos avós, dando escândalo! Quanto medo de mim... sou apenas uma mãe sem filha, partida ao meio, com um buraco no peito, triste, cansada, sozinha,  por que tanto medo de alguém como eu? O único poder que tenho é o da palavra. Mas ainda não pude usá-la.
  No dia seguinte desse texto fui para São Paulo, 8 de abril, para uma audiência. Me preparei física e, principalmente, psicologicamente para essa audiência. Não houve audiência, minha advogada desistiu da mesma ao saber que o endereço de Dora era em outra comarca, a de Ribeirão Preto. Nesse tempo fiquei sabendo que o cara bonzinho e conciliador (aquele que me enviou mensagem sobre um órgão de conciliação), havia entrado com liminar pedindo suspensão das minhas visitas. E o juiz aceitou, vai saber o que está escrito na nova ação, afinal, a outra parte nunca inicia uma ação com menos de 1.500 páginas... acho que a vida dele é tão vazia, que precisa ser preenchida com papéis e assinaturas. Quanta falta de amor!
   Então liguei de novo para o avô psiquiatra infantil da Dora, afinal, o cara me enganou muito, dizendo não saber onde a neta estava, estando o tempo todo na casa dele. O maior ator dessa história é José Hércules Golfeto, é a mente superior disso tudo! A secretária do consultório anotou meu recado. Como no fim do dia não houve retorno, tornei a ligar. Dessa vez a secretária disse que ele não ria falar comigo, era recomendação do advogado do filho dele e que haveria uma audiência 9 de maio e eu que esperasse! Ah, esses advogados e suas recomendações para perpetuar o litígio... na verdade não sei se foi o advogado ou mais uma mentira desse médico psiquiatra, que no auge de sua interpretação fantástica disse que mãe e filha precisavam estar juntas! Que era injusto separar irmãs!
  Nesses 100 dias outra audiência foi marcada, mas desmarcada um dia antes de acontecer. Nesses 100 dias, Dora passou o dia das mães sem mãe e sem pai, porque o pai amoroso,  presente e cuidadoso pegou a filha e levou para morar com os avós e leva sua vidinha tranquila em São Paulo! Mas ele diz, por meio do advogado dele, claro, que mora em Ribeirão Preto e trabalha em São Paulo. Será que tem jatinho e eu não sei? Enfim., esse genitor ator trabalha nos finais de semana em São Paulo, logo não estava com Dora nem no dia das mães... isso ao menos mostra que ele  tem noção de sua incapacidade de cuidar da Dora, sabe que vai vacilar, que não vai conseguir acordar para levá-la onde tem que levar, enfim, ele deu seu atestado de incapaz mandando a filha morar com os avós.
  E minha Dorinha está lá com o casal septuagenário. O lado bom é que está levando alegria e um pouco de sentido para a vida daquela gente... espero que não suguem toda a sua energia e vivacidade, que não coloquem tristeza naqueles olhos de Capitu.
  Nesses 100 dias Dora perdeu o desenrolar da língua de Miranda. Agora Miranda fala tudo e nunca esquece a irmã, todos os dias fala de Doinha... e agora já aceitou que "Doinha foi emboia", antes achava que fosse voltar... tive que tirar todas as fotos visíveis de Dora, pois Miranda se punha a chorar... agora pega as Barbies da Dora e fala que é "da minha Doinha". Sim, é sua irmã e sempre será, pena perderem a infância juntas. Nesses 100 dias talvez Dora não tenha visto nenhum jogo do Santos, sua camiseta do time também ficou aqui, com certeza não vão dar-lhe outra, pois Dora não terá nada que remeta à sua antiga vida. Nesses 100 dias deve ter feito novos amigos na escola, mas seus melhores amigos estão aqui. Espero que ela sinta toda a vibração de amor e amizade que todos sentem por ela. Espero que isso lhe dê esperança e alegria para voltar. Que ela acredite que vai voltar! E que mantenha-se resignada e calma, como sempre foi.

Sobre Sapatilhas de Ponta

  Dora não via a hora de chegar o quarto ano do Balé no Municipal de Santos, pois só no quarto ano usaria sapatilhas de ponta. Fizemos a matrícula para o segundo ano no fatídico 10 de fevereiro, quando foi levada pelo pai, oficial de Justiça, advogado e Rede Globo. Gosto de lembrar isso, pois o genitor fez questão de levar a Globo para registrar a retirada de Dora de sua doce vida.
  Enfim, sobre as sapatilhas de ponta, a diretora do CBI (Corpo de Baile Infantil), do qual Dora fazia  parte, alertou que não se deve usar antes dos 10 anos, se quiser seguir carreira, porque usá-las antes acaba com as articulações da criança. Como a vida de bailarina não é muito longa, o correto é tentar prolongá-la ao máximo.
  Mas Dora está fazendo balé em Ribeirão Preto e com sapatilhas de ponta! Ou não são bem informados por lá ou querem suprir as dores de saudades de Dora com prazeres imediatos, como a utilização de sapatilhas de ponta, afinal, era um grande desejo dela. Já que não pode ter mãe, irmã, amigos, praia, balé no Municipal de Santos, que seja feita a vontade das sapatilhas de ponta. Para que preocupar-se com suas articulações? Ora, se ninguém lá se preocupa nem com seus sentimentos... mas há alguém aqui que sabe o que Dora sente e precisa. Um dia Dora vai crescer e ler tudo que sua mãe escreve. Irá ver as ações que seu genitor entrou contra mim, irá ver que ele queria me tirar da certidão de nascimento dela. Irá constatar que seu genitor não queria ficar com ela, apenas separá-la de mim. E o que acontecerá então? O tempo, sempre o sábio tempo, dirá.

2 comentários:

  1. pode ter certeza amiga nada mais precioso que o tempo pra nos mostrar pq DEEEEUS faz dessas coisa... Agora me diz se num cai uma folha de uma arvore sem a vontade de DEEEEUSSS, então de que DEEEUS é esse???

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  2. Ainda pensando na última vez que eu vi vocês três, no natal: uma pequena família feliz. A Miranda e a Dora tão unidas! Não entendo o que se passa na cabeça de psicólogos e juízes que arrancam uma criança dos braços da mãe.

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