segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Abismo Entre Adversário e Inimigo

  Lendo, novamente, o blog de Elaine César, sobre sua audiência da semana passada, me vi na cena. Ela espera um resultado rápido, porque o amor de mãe e filho tem urgência, espera perdão, espera trégua. Mas sentando-se naquelas cadeiras sóbrias, sala fria, olhando pela primeira vez uma pessoa (juiz) que irá determinar sua vida e de seu filho, entre advogados falando termos jurídicos e tratando crianças como objetos: "porque no ato da busca e apreensão do menor" ou "o local onde estaria mais seguro o enfante". Ninguém fala em lar, em amor, em compaixão, em perdão. Mas o pior mesmo é ver a outra parte impassível, sem emoção, como se nunca tivesse vivido uma vida em comum, olhar a outra parte e desejar que tente esquecer o desejo doentio de vingança e lembrar algum  momento, por mais efêmero que tenha sido, bom.
  Mas isso não existe no inimigo: perdão, compaixão. O que mais choca em audiência de Vara de Família é a terrível constatação de que você tem um inimigo. A primeira vez que passei por isso foi bastante simbólico e estarrecedor. Fisicamente doloroso. Até então sempre tive adversários na vida, jamais um inimigo.
  Era a primeira, e até hoje única, audiência entre a outra parte e eu. Após ter fugido do Visitário Público com Dora e nos ver no Fantástico 1 mês depois, com narração de Cid Moreira, voltei e realizei "a devolução da incapaz", com passagem por peritos. Fiquei sem ver ou falar com Dora por um mês após a "devolução"  (o termo jurídico é esse). Pensei que se já era obrigada a ver minha filha no Visitário Público, imagina agora a penalidade que nos seria imposta. Chego lá com meu advogado (já outro depois de descobrir que Muruy de Oliveira não tinha nem inscrição na OAB), a outra parte com sua advogada.
  Momento tenso, ao olhar a advogada da outra parte fico assustada, não sei se já estava sugestionada, mas senti uma vibração de ódio vinda dali. O pai da minha filha nem me olhava nos olhos. Eu estava com infecção urinária braba. Tive febres a semana toda. O juiz se mostrava propenso a acordos e disse que mãe e filha precisavam ter contato. Que eu não causei mal algum, ao contrário, Dora voltou com mais peso, mais saudável, bronzeada e feliz das férias forçadas com a mãe! Feliz, muito feliz ficou Dora livre comigo. Sim, finalmente tinha sua vida de volta com sua mãe!
  Sei que agi errado levando-a do Visitário, mas o próprio policial acenou para mim, achando que era uma mãe levando sua filha para o lar. E Dora pediu tanto para tirá-la de lá. E aquele lugar era tão sórdido! E minha amada filha não merecia aquilo. Nenhuma daquelas pobres crianças mereciam. Não pensei em consequências jurídica, agi com amor de quem não pode mais ficar vendo sua filha sofrer e esperando um sistema moroso funcionar. Justiça pelas próprias mãos pode ser o nome disso. Não julgo crime ter minha filha comigo, sendo capaz, responsável e podendo cuidar tão bem dela, ao contrário de tantos que deixam seus filhos aos cuidados de terceiros, de avós. Pessoas sem estrutura para cuidar dos filhos deixam com outros. Pessoas como eu cuidam dos filhos.
  Fui com Dora sim, me arrependi e não sabia como voltar, voltei ao ver a imagem da minha filha exposta no Fantástico. Ainda bem que a mídia tem sempre outra notícia para apagar as marcas da anterior. Ainda bem que 15 minutos de má fama passam rápido. Voltei e estava ali, naquele tribunal, disposta a apagar tudo. Minha meta era ter Dora morando de novo comigo como sempre foi. Mas não sendo possível queria vê-la em qualquer lugar que não fosse a tortura do Visitário Público. Era um direito  meu não querer mais encontrar minha filha num cárcere, afinal fui eu mesma, que isso seja lembrado sempre, por meio de um advogado inexperiente e incompetente, que pleiteei a visita! Assim que pisei naquele lugar e vi o inóspito da situação, me arrependi, mas a outra parte, o inimigo, aproveitou-se para agravar o problema, distorcendo os fatos, como se eu tivesse sido "obrigada"  a ver minha filha lá. Não importava que a filha também sofresse. Meu sofrimento era a meta maior do inimigo. Isso sim é um inimigo quase invencível. Alguém que não se importa com a dor da filha porque isso atinge a mãe, no caso eu, a inimiga.
  Nenhum lugar ele queria para a visita. Sua ideia já era dali me destituir do poder familiar e formar com Dora uma nova família, com outra "mãe". O pai de Dora insistia para que nossos encontros se realizassem no Visitário. O juiz ponderava que o lugar não era saudável para ninguém, muito menos para a criança. Mas o pai de Dora queria o visitário, porque eu poderia fugir. O juiz ainda alegou que fugi com polícia militar, monitoramento, que não adiantava visitário para mim. Eu jamais aceitaria encontrar Dora de novo num visitário. Não era só eu e o inimigo. Minha amada e desejada filha estava no meio disso. E pensava nela, acima de tudo.
  Após 4 horas (sim, 4 infinitas e dolorosas horas, em que tive de me retirar para ir ao banheiro por causa da tal infecção urinária), nenhum acordo foi feito. O juiz nos dispensou sem dar sentença.
 
Sempre em Frente

   Desci a Serra do Mar chorando. Lembrando cada ato que me fez chegar até ali. E lembrei de muitos saudáveis adversários da minha vida. Na escola eu disputava sempre a liderança de classe. Ganhei os quatro anos que disputei, mas meu adversário, o segundo lugar, me fazia ser cada ano mais ativa nos eventos da escola. Meu adversário, Marcelo, muitas vezes tirava notas maiores do que eu. Ele era nota 10 em tudo. Eu raspava em 8 e 9. Marcelo, adversário que dividia comigo a mesma fascinação por literatura e gramática,trazia novos livros, autores, me fazia estudar mais. Querer ser me melhor.
  Nas piscinas impossível quantificar o número de adversárias. Mas em algumas provas encontrava as mesmas nadadoras, que por vezes vencia, outras perdia. Os mesmos braços que disputavam braçada a braçada em raias diferentes, se abraçavam na chegada. Adversárias que me faziam treinar mais.. Querer me superar.
  No trabalho tem sempre um repórter que consegue a melhor matéria, busca as mais seguras fontes (pessoas que passam informações) e se destacam. Com esses quero aprender, dividir e conseguir uma notícia melhor, uma visão diferente do mesmo fato. Conheci tantos assim.
  Entre os mais generosos está Sérgio Duran, com quem tive a honra e o prazer de trabalhar no jornal Diário do Grande ABC, no caderno de Cultura. Eu cobria preferencialmente Dança e Artes Plásticas, Duran era o fera das Artes Cênicas e não se importava de me passar todas as suas fontes. Até o telefone pessoal da atriz Malu Mader ele me deu. Primeiro porque sabia que usaria todos com responsabilidade. Depois porque queria me ajudar a crescer como profissional. E, principalmente, por nossa afinidade imediata. Santista, ex-jogador de vôlei, casado com uma maquiadora supermoderna, pai de 3 filhos e ligado em todos os acontecimentos culturais, Sérgio Duran era o amigo perfeito, além de jornalista brilhante. Melhor adversário não há! Com esse, a meta é a perfeição!
  Mas o inimigo nunca te ajuda a melhorar. Ao contrário, os sentimentos despertados por ele só te derrubam. O inimigo usa armas fraudulentas para te aniquilar. Nunca é transparente, só age por ódio e vingança.
  E no fim de uma pequena batalha, a tal audiência, fui divagando na Serra do Mar, sobre meus adversários e inimigo. Como queria continuar aprendendo com meus adversários. E passar uma borracha em qualquer história com inimigo. Mas o inimigo é pai da minha filha, que paradoxo. Como apagar...
  E no dia seguinte, após uma noite de lágrimas, angústia e solidão, o juiz dá a sentença. Ganhei o direito de pegar minha filha sábado, 10h da manhã e devolvê-la domingo, 16h. Uma pequena vitória sobre o inimigo!  Isso foi em abril de 2006...

2 comentários:

  1. minha amiga sinto saudades... tava louca pra saber novidades
    Me liga bjos na Miranda

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  2. Minha prima,espero que tudo se resolva.Não gostaria nunca de esta na suapele,pois a minha situação é muito diferente da sua mas realmente o inimigo é um grandissimo fp,ele derruba põe a nossa auto estima lá embaixo e se puder pisa.Mas creia que tudo vai dar certo nada.Lembre sempre do sorriso dela pois sera isso que te dara força.Beijos

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