terça-feira, 15 de março de 2011

Meu Tsunami Interior

  Fisicamente sinto apertos no coração, vazio no estômago e nós na garganta. Emocionalmente é difícil de explicar, é como ter perdido uma filha viva, embora eu saiba que cedo ou tarde tudo se resolverá. Mas é esse "ou tarde" que mais que me angustia, me aniquila. Há 36 dias não vejo Dora, não nos falamos, não sei como e onde ela está. Sei que deve estar com o guardião, que em sua vingança perfeitamente programada, mudou de endereço, não deixa Dora se comunicar com ninguém, não levou nenhuma lembrança do que ela tem. Tudo dela está aqui, ela está comigo o tempo todo...
  Paralelamente, em via oposta, tenho outra filha, a sapeca e carinhosa Miranda, de 2 anos e 1 mês, que pergunta onde está "Doinha", que beija fotos da Dorinha, pega as bonecas da Dorinha e há 3 dias está com febre noturna. Ela não sabe o que se passa, mas já duvida que a irmã tenha mesmo ido passear, que passeio mais demorado é esse?
  Junte-se a isso "preciso/necessito" ter um emprego na Baixada Santista, não só por uma questão financeira, mas para o processo da reversão de guarda. Afinal a outra parte, em uma de suas exigências, dizia ser capaz de compartilhar a guarda caso eu mudasse em até 45 dias para São Paulo, bom, isso foi em janeiro, o prazo já expirou... e quem fica mais de 30 dias sem comunicação é  porque não está muito propenso a compartilhar nada.
  Outra necessidade é achar alguém para dividir a casa comigo, afinal o que era grande ficou maior ainda sem Dora para ocupar os espaços. Sobra amor e espaço. E mesmo me sentindo assim metade partida tenho que ir periodicamente ao Fórum, tenho que ir atrás de provas que desmintam calúnias e difamações, como por exemplo, provar que mesmo com um grave descolamento de placenta na gravidez de Dora, levei a gestação até o final, contrariando todas as expectativas. Mesmo fazendo repouso absoluto, abdicando de tudo para ver minha barriga crescer sã e salva e ter minha bebê mamando saudável no tempo certo, a outra parte teve a covardia de colocar no processo que "não me cuidei na gravidez" e que ele atrasou a produção de um curta porque dispensava muitos cuidados comigo e com a recém-nascida, que ele fazia tudo...
  Ora, os que estiveram lá, e foram muitos, sabem como eu ficava deitada para não sangrar e que até o sexto mês de gestação morava sozinha, com amigos se revezando nos cuidados comigo: Ali Hassan, Fábio Diegues, Flavia Vieira, André Corrêa, Claudia Pentiocinas, Keila Gonçalves, Mirela Tavares, Maria Paula Alves... são apenas alguns nomes que me ocorrem agora, pessoas que me levavam almoço, filmes, livros, conversas, apoio... o genitor estava ocupado com ensaios e produção de curta, ok, nunca cobrei isso dele. Mas mentir descaradamente, transformar a verdade dessa forma é um ultraje, é assombrosamente doentio!

Perigo Nuclear

  O mundo preocupado com acidentes nucleares e eu aqui, presunçosamente colocando acima de todas as coisas o meu sofrimento e o suposto sofrimento de Dora - espero que seja apenas uma suposição e ela esteja superando tudo isso com diversão e sabedoria. Sim, catástofres naturais acontecem e parece que tem acontecido com mais frequencia. Mas veja a ironia: o Japão é o País mais preparado para suportar catástofres naturais e por ter um dos maiores sistemas de energia nuclear do planeta, aumentou a catástofre. Não bastassem terremotos e tsunamis, a população agora tem que conviver com o medo de contaminação por radiação em consequencia das explosões dos reatores nucleares.
  Nunca estive no Japão, por isso fica ainda mais difícil imaginar um País preparado para a desgraça constante, para situações extremas, de guerra. Dessa trágica lição podemos tirar muito proveito. O terremoto aconteceu, vem a Tsunami. O que se  pode fazer é correr para o alto e esperar a Terra tremer e a onda devastar. Sobreviver. Reconstruir. E fugir para longe das usinas. Fugir também é sobreviver. O desastre só não será maior porque o governo japonês não enganou a população. A merda foi feita, agora fujam daí. No acidente de Chernobyl, em 1986, na antiga União Soviética e onde hoje é a Ucrânia, o estrago foi muito maior por falta de informação, pela falta da verdade.
  A verdade é o único caminho, sempre.
  Esse acidente faz repensar as prioridades do mundo. Os governantes precisam ter atitude e rápido. As populações precisam cobrar, com urgência, novas medidas. Todos precisam rever prioridades. Para que gastar tanto com energia nuclear se a energia solar é constante, mais barata e mais segura? Não sou phd em Física, mas pelo pouco que sei e do muito que li a respeito, energia solar é uma opção sábia em todos os aspectos. Mas se fosse assim tão fácil... muita arrogância querer salvar o mundo com soluções tão simples. O homem não é insignificante diante da natureza, não pode salvar o mundo, que já passou por tantas e continua aqui, mas pode, sim destruir a vida no planeta. Então porque sofro ao pensar que minha vida está sendo destruída? Porque esse tempo perdido não volta, porque o trauma feito não desfaz, mas como no Japão, é ir para o alto, esperar o tremor passar, reconstruir e seguir com a verdade, sempre.

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