quinta-feira, 31 de março de 2011

Buraco da Saudade

    Há duas semanas o guardião da Dora me mandou uma mensagem sobre nos encontrarmos no Fórum João Mendes, em São Paulo. Eu, ele e Dora. Perguntei porquê um lugar tão cinzento e a resposta seca foi: para você não fugir pela terceira vez. Ok, concordei, eu preciso ver a Dora e levar para ela, no mínimo, o cachorrão de pelúcia que ela costumava dormir abraçada. Também o livro que dei no seu aniversário e que ela leu metade no mesmo dia... a outra metade está aqui comigo.  O encontro ficou marcado para quarta-feira, ontem. Depois remarcado para hoje e, se eu preferisse, em Santos. Claro que preferi, além de ser melhor para mim será melhor para Dora, que verá a praia, nem que seja do alto da Serra, que vai respirar o vento do litoral e sentir-se em casa. O lugar do encontro? Fórum de Santos! A hora o zeloso guardião ficou de passar depois. Sugeri que o encontro fosse em casa, onde é a casa de Dora, onde estão suas coisas, onde ela se sentirá a vontade e poderá escolher o que levar consigo. A resposta não veio. Ah, tudo isso por email, claro, já que não atende minhas ligações. E telefonema, se não for gravado, não é prova jurídica. Estou ainda aqui esperando, com a tela aberta para ver se chega alguma mensagem.
   Mesmo assim já separei alguns objetos para levar para minha amada Dora: o tal cachorrão e o livro, um porta-retrato (com ou sem hífen? Ainda não dominei a reforma ortográfica) com uma linda foto da Miranda, sua tiara preferida e uma blusa azul que tem uns 3 anos e já virou motivo de piada entre nós, porque ela usa o tempo todo e está com ela em muitas fotos. Quando eu tinha que preparar mochila com roupa para levar em casa de alguma amiga, colocava esse blusa porque sabia que não tinha erro, na dúvida, a blusa azul. Sei que Dora terá todas essas lembranças. Espero que fique feliz, confortada...além disso, falei com minha amiga Claudia, mãe de sua  melhor amiga Raquel, que irá ou iria, levá-la também. O abraço da melhor amiga não tem preço!

   Modus Operandi

   Muita gente acha que sou pessimista, devo ter pensamento positivo e tal, mas conheço o modus operandi da outra parte. Me dá esperança e tira. Diz que vai fazer e não faz. Diz que não vai fazer e faz. Então pode-se esperar tudo, tudo mesmo de uma criatura assim. O que surpreende alguns para mim é casual, é só mais do mesmo. Creio que sou realista. Ontem a assistente da minha advogada foi ao Fórum da Barra Funda onde corre o processo por subtração de incapaz - subtraí a minha filha, a incapaz, duas vezes! Reincidente. Mas o promotor desse processo, que já deu até entrevista sobre o caso para a Rede Globo, está propenso ao perdão judicial, porque deve ser uma pessoa coerente e o sistema judiciário está atravancado de processos muito mais graves e urgentes.
   Esse mesmo promotor, Alfonso Presti, trocou vários emails comigo - fato inédito, promotor trocando email com réu - sempre mostrando preocupação com o bem estar da Dora e propondo acordo, para ele o ideal era Dora continuar comigo em Santos e passar finais de semana alternados com o pai, todos os feriados prolongados e metade de férias e, em 2012, eu me comprometeria a mudar para São Paulo, uma exigência da outra parte. Sim, aceitei, melhor que isso não poderia ser. Era o que eu queria desde o começo, quando entrei com ação de manutenção de guarda com regularização de visita, pois nunca planejei afastar Dora do pai, ao contrário. Por pior que ele seja para mim é o pai dela e se ele for ruim com ela, cabe a ela perceber isso.
   Não há nenhum mandado de nada contra mim no processo criminal. O perdão judicial,  por Lei, seria dado automaticamente na entrega da incapaz - Dora - ao Fórum. Para evitar que eu tivesse esse perdão automático, o zeloso guardião fez a busca e apreensão daquela forma insensível, violentando a própria filha, costurando um acordo, mas agindo de má-fé o tempo todo. Mesmo assim, como ela passou por corpo delito e está ótima, bem cuidada, sã e salva, o promotor continua seguindo a linha do perdão. Mas como ser perdoada assim por ter afastado a filha do pai por 4 anos e 5 meses? Isso é Justiça? Então, o estrategista, ao mesmo tempo que entrou com a tal ação para Destituição do Poder Familiar, no dia 4 de fevereiro, conseguiu com um juiz a autorização para ser assistente de acusação. Sua intenção? Ajudar o promotor na minha punição, me levar a julgamento, continuar o litígio infinitamente!

De Dante para Dora

   Quando recebi a mensagem da advogada sobre os novos acontecimentos repassei para os amigos que estão acompanhando tudo de muito perto. Recebi uma resposta do Angel Luíz Rodriguez que é a mais pura constatação dos fatos. É um jogo de xadrez, cada peça deve ser movimentada pensando nas próximas jogadas. Confesso que não sou boa em xadrez, o que sei aprendi com Dora, que por sua vez aprendeu com seu genial amigo Dante, de Paraty. Esse menino, filho de bailarina com músico, na época com 6 anos, dava banho nos mais velhos em suas jogadas. A dica de Dante para Dora: começa errando para conhecer a estratégia do adversário. Que saudade do Dante!
   Angel disse mais, que dei azar de topar com um cara excepcionalmente mau e que tudo isso vai muito além da Dora, é jogo para a vida toda! E muitos xadrezistas não conseguiram terminar suas partidas e enlouqueceram pensando nessas partidas intermináveis.
   Não sou xadrezista, não sou obcecada, não quero que isso dure a brevidade da minha vida, não quero que Dora acabe com sua infância precocemente. Tenho a urgência de quem tem fome, tenho a dor do buraco da saudade, tenho a penumbra do quarto vazio e não sei jogar. Se isso é a luta do bem contra o mal pelo pouco que sei o bem sempre vence no final. E quando será o fim disso?

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