quarta-feira, 23 de março de 2011

O Pior Inimigo

  Me conforta pensar que não sou mais uma procurada pelo crime de subtração de incapaz. Na verdade nem sei se eu cheguei realmente a ser procurada, mas por conta desse processo criminal passei por alguns momentos de intensa adrenalina. Minha habilitação para dirigir, das antigas, venceu em junho passado, mesma época em que estacionei no lugar errado e tive meu carro guinchado, daí dei entrada no Poupatempo para fazer nova habilitação e aproveitei para tirar nova identidade, já que estava com uma de quando tinha 10 anos. Dei entrada para o RG, mas a habilitação, por ser das antigas, deveria ser renovada no Guarujá. Fiquei até irritada com a burocracia, como se fosse uma cidadã comum, não uma foragida. Me conformei, como todo cidadão comum.
  Quando fui buscar o RG, alguns dias depois, o atendente fez um ligação, verificou o computador e me perguntou: "Você está sabendo de algum processo?" "Não", então pediu que eu o seguisse. Segui, ele entrou numa sala e eu, mais que depressa, vazei, dei área, fugi! Lá fora minha amiga Maria Paula me esperava no carro dela. "Caramba, Dri, pensei nisso, que  poderia dar algum problema, vamos embora".
  Ainda fiquei feliz que a habilitação seria renovada no Guarujá e lá eu teria documentação correta. Fiz tudo o que tinha que fazer, os exames, pagamentos, filas... só que no dia de buscar preferi pedir para minha mãe ir, com os devidos documentos. A pobrezinha me ligou assustada, dizendo que o atendente fez uma cara séria e disse que apenas eu poderia ir lá resolver isso, que eu estava "portariada". Achei que minha mãe estava imaginando coisas e pedi para uma amiga, Damiana, ir. Dami foi e disse a mesma coisa, que o "o cara fez uma cara sinistra". Perguntei para contatos da políca, amigos, ninguém soube me dizer o que seria a tal portaria... me senti acuada, sem documentos, cerco se fechando... fiquei sem carteira de motorista e identidade antiga.

  Desde que Dora se foi fiquei perdida, numa dimensão entre Fórum e tristeza. Salve momentos de pura alegria e amor, graça recebida da Miranda, eu seria um poço de tristeza, arrependimento e dor. Dor física e mental, muita dor. Eu tento fazer parar esse círculo vicioso, mas é difícil, quase impossível. Estou presa nessa dimensão. Nas tentativas de perdão, compreensão e racionalidade, o que recebo são negativas, desejos de vingança, subterfúgios. Cada dia mais cansada de tudo isso. É um aprendizado diário sobre "vingança". Tudo pode ser feito por vingança e cansa ter que estar preparada para tudo. Me resta ainda resolver questões práticas, da vida que continua. E assim tentar romper o ciclo.

  Daí fui no Departamento de Trânsito do Guarujá, ainda com algumas ressalvas de Claudia Pentiocinas, minha amiga e advogada. "Espera mais uns 15 dias para o seu nome sair do sistema". Na pior das hipóteses teria de me explicar, que não há mais subtração, pois a incapaz não está comigo. Fui até a casa da Ximena, buscar a papelada deixada por Damiana, a última a tentar pegar a habilitação. Me acalmei e segui para o Detran. Mostrei a papelada para o atendente. Ele realmente fez uma cara de problemas e disse: "Só na portaria, espera ali e depois entra naquela sala". Muito sinistro, meu coração disparou e minhas pernas tremeram, eu cruzava e descruzava as pernas para disfarçar, pois elas balançavam sozinhas. Insisti com o rapaz: "Mas o que é essa portaria? Demora?" "Cada caso é um caso, você tem que conversar com a Célia, deve ser multa excessiva, carteira presa". Isso? Seria só isso? Ainda lembro que pedi pra Xangô (que agora sei que é o orixá da Jutiça) me ajudar a ser clara na hora de explicar a história - cá entre nós, cada vez mais dantesca.
  Entrei, mesmo com dois homens na sala, estava nervosa e não podia me atrasar para buscar Miranda na creche. Célia me atendeu gentilmente, "Você precisa escrever uma carta de próprio punho para o delegado de trânsito pedindo para dar baixa em duas multas, de 1998 e 2001, que ainda constam. Por isso não te liberaram a carteira". Era isso, tão pouco e somente isso! Quem deve, teme mesmo! A cara "sinistra, preocupada, de problemas" do atendente é porque realmente é um problema ter carteira presa por multas excessivas ou não pagas. Mas para mim foi maravilhoso. Tudo é questão do referencial. Estava preparada para muito pior. E tive medo porque devia. Não quero mais isso pra mim Meus erros me trouxeram onde estou, não vejo agora como acerto nada que fiz. Por fim espero continuar rompendo o ciclo e resolvendo todas as pendências, sem nada temer.

Um comentário:

  1. oi amiga e cuma-dri... que alívio esta história da carteira... pelo menos algo, ne... leio sempre aqui, quase nunca comento, porque fico triste, triste, pensando na dorinha... nem sei como vc aguentaria não fosse a minha mimizinha mais fofura da dinda: sempre que canto aqui a música do sapo que não lava o pé e da estrelinha lá no céu eu lembro dela, com seus olhos vivos de jabuticaba, toda cheia de expressões e sobrancelhas altas e um sorriso gostoso.
    manda um beijo bem apertado nela por nós, e outro no seu coração, com todo nosso amor

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