quarta-feira, 19 de junho de 2013

Cheiro de Revolução

    O que está acontecendo em todo o Brasil na última semana é de arrepiar. Havia preparado um texto para segunda-feira, antes das manifestações. Não participei porque estava em Ribeirão Preto, na minha jornada semanal de bate e volta Santos/Ribeirão. Lá não houve manifestação, se houve foi tão pequena que não percebi. Mas o que escrevi ficou velho, foi tudo bem maior do que eu previa. Fiquei com a Paola Miorim e sua filha Lívia, acompanhando tudo online, na melhor cobertura jornalística que existe para esse evento: as redes sociais. Lívia, na plenitude de seus 17 anos, estava eufórica, querendo ir para São Paulo. Teve depredação, infelizmente, mas convenhamos que foram poucos os manifestantes "vândalos e baderneiros". A avenida Paulista ficou em paz. Já sabemos e o mundo sabe que não é mais pelos 20 centavos de aumento nas passagens. É por tudo que acontece e deixa de acontecer neste País.
   Ontem foi votado o projeto de Lei da Cura Gay, que derruba a resolução 00/99 do Conselho Federal de Psicologia, que desde então não trata homossexualidade como doença. Aprovaram a Cura Gay em primeira instância. Isso significa que a maioria dos parlamentares que votou é homofóbica e ignorante. E tudo é feito tão na surdina que a maioria da população nem sabia que esse absurdo estava sendo votado. Hoje está bombando nas redes sociais.
    Outro PL que está para ser votado é o PEC 37, que dá total liberdade para o Congresso fazer o que bem entender, sem ser julgado pelo judiciário. Isso é ditadura ou não é? Claro que é interesse da maioria que está lá não ser julgada, porque a maioria, por mais que entre com boas intenções, acaba se corrompendo. Digo maioria, porque tem sempre a exceção que confirma a regra. Agora, com essas manifestações que não cessam, espero que olhem com mais cuidado pra os abusos feitos no Planalto, que grande parte da população nem fica sabendo.
     Ontem cheguei a pensar que manifestação todo dia perderia o fôlego. Mas mudei de ideia (adoro mudar de ideias). Somos 200 milhões e 200 mil foram às ruas. Não vai perder o fôlego, esse movimento vai ganhar cada vez mais oxigênio! Cada vez mais pessoas estão aderindo. E não venha a presidente Dilma dizer que manifestações são próprias da juventude. Há idosos, crianças, gente de todas as idades participando. A revolta com a política brasileira não é coisa de adolescente cheio de hormônios, não. É um direito civil protestar e se manifestar, direito esse que pode ser retirado na votação de 29 de junho, no projeto de Lei sobre terrorismo. Direito civil que já está sendo tirado dos homossexuais. Como diz o famoso texto de Bertold Brecht, que também está correndo solto nas redes: "Levaram meu vizinho que era judeu, como não sou, não me importei. Levaram meu vizinho homossexual, como não sou, não me importei. Levaram meu vizinho negro, como não sou, não me importei. Até que me levaram e não tinha ninguém para se importar". Nós brasileiros nos importamos. Não vamos deixar levar minorias já tão massacradas. Não vamos.
     Há de acontecer uma reforma geral na forma de fazer política nesse País. Impeachment? Não creio que seja para tanto. Mas se for preciso, tiramos prefeito, governador e presidente, sim. Já fizemos isso, eu estava lá.

Os caras pintadas

    Seria minha primeira eleição para presidente. Devidamente orientada por minha querida, linda e saudosa amiga Ana Paula Assumpção, votei em Ulysses Guimarães no primeiro turno. No segundo estavam Lula e Collor. Não conhecia Collor e não acreditava no seu discurso vazio de caçar marajás. Não acreditava que Lula fosse capaz der governar o País, já que nunca havia ocupado um cargo executivo. Iria anular meu voto. Uma noite antes da eleição saí com um grupo de amigos petistas, alguns jornalistas (eu tinha 19 anos e cursava o segundo ano da faculdade de jornalismo), muitos estudantes. Em debates inflamados contra meu voto nulo, me fizeram ver que Collor era uma grande ameaça e que Lula tinha bons assessores e políticos de respeito no PT. Eu, particularmente, só gostava do Eduardo Suplicy. Mas votei no Lula. Votei mais contra o Collor do que no Lula.
     Fernando Collor de Melo foi ainda pior do que eu poderia imaginar, mesmo dentro do meu realismo pessimista, que me acompanha da infância até hoje. Fraude total. O caçador de marajás tinha casa com piscina de cascatas! Tinha muita coisa pior,  mas a piscina de cascatas... ah, isso para minha juventude cheia de rebeldia era o maior símbolo de ostentação humana!
    Quando tudo parecia estar se perdendo, um presidente patético vai fazer pronunciamento em rede nacional, pedindo ao "povo brasileiro" que vista-se com roupas coloridas e vá às ruas mostrar apoio ao seu governo. Me indignei com tamanha cara de pau e alguns minutos depois, me liga a amiga Carla Stoicov, uma militante de carteirinha, pra dizer que estavam planejando ir para as ruas no dia seguinte, todos de preto. Adorei a ideia, liguei para todos que eu podia e que estavam na minha agenda. No dia seguinte enchi meu carro preto de amigos vestidos de preto e saímos primeiro em carreata pela avenida da praia de Santos. Não lembro quem levou tinta, mas logo estavam todos com o verde e amarelo no rosto.
    Foi lindo, foi maravilhoso. O resto virou história. Com muito orgulho digo que fiz parte disso e sinto agora a mesma euforia que senti naquele dia. Sinto que algo de muito grande está para acontecer. Uma mudança drástica, profunda. Em 1992 não existia celular com fotos, nem redes sociais na internet. E conseguimos mobilizar uma nação. Agora o movimento é global. O Brasil está no mundo. Não somos fracos, não!
   

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