quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Sisters of Pain

  Estou muito emocionada, muito mesmo. 
  Há dois anos e meio, quando comecei a escrever por aqui, tive meu primeiro contato com a protagonista da história mais trágica de todas as mães: Elaine César. Por meio de nossos blogs  nos tornamos cúmplices na dor, na injustiça, no trabalho e também nos insigths brilhantes. Elaine conseguiu reverter a guarda no tempo recorde de nove meses. Mas esses seriam os últimos meses de sua vida. Venceu a batalha na Justiça, mas perdeu a do câncer. Se um dia houver uma Lei nesse País de proteção aos menores, vítimas de pais vingativos e insanos, deveria ser a Lei Elaine César... só acho.
  Então saiu a malfadada matéria no Profissão Repórter. Elaine me escreveu logo após, indignada com a atitude do pai, que chama a Rede Globo para gravar o trauma da filha. No dia seguinte recebo um email de apoio da mãe Natália Nogueira, do Recife. Ela viu a matéria e não acreditou na história, me procurou na internet e achou esse blog. Uma menina... que perdeu a guarda do filho quando esse tinha 2 anos e ficou 2 anos e meio sem vê-lo. Essa menina me deu tanta força, me indicando como suportar todo esse afastamento, com suas músicas de rock, sua busca do novo amor, com seu pensamento ora resignado, ora revoltado. Nesse tempo a Natália encontrou um grande amor, se entregou, tiveram um filho lindo há um mês e estão felizes. É ou não é para continuar acreditando no amor? Natália também tem um blog: deslizes...
   Foi algo viral o que aconteceu a partir daí. Apareceu a Déborah Carneiro, que ficou 6 anos sem ver sua única filha, uma moça linda, que cansada disso tudo, casou-se jovem nos EUA e não chamou pai, nem mãe para o casamento. Dá para julgar essa garota que viveu a infância e adolescência no meio de um fogo cruzado? Ouvindo as piores histórias sobre a mãe, enquanto era desconsiderada pelo pai? Conheci Janaína Ferreira, que também teve uma segunda filha após perder a guarda do filho maior. E a querida Luciana Mendonça, que mesmo sem conhecer é como se fôssemos amigas de infância, tamanha nossa afinidade e coincidências na vida. A Janette, do Rio Grande do Sul, que parece uma insana fazendo protestos em frente ao fórum de Pelotas, porque há cinco anos não consegue nem ver seu único filho. Só parece uma insana, porque qualquer um em seu lugar já teria perdido a sanidade completamente. Mas para advogados, promotores e juízes, uma mãe que coloca imagens no youtube, que chuta a porta de juiz (eu fiz isso) é louca. Sanidade é fingir que não liga para o distanciamento e seguir a vida como se o filho não existisse. 
     Nem lembro como apareceu a Adriana Botelho em minha vida, foi pelo blog, certamente. Essa mulher está há quase 2 anos sem ver a filhinha, que está sob o domínio do pai, em Portugal. Dri é uma baiana arretada, que já deu várias entrevistas, também tem um blog e está se formando em Direito. Teria férias com a filha em julho deste ano, o pai a traria, mas de última hora aproveitou mais uma brecha da Justiça e não a trouxe e nada pode ser feito. Nada? Como assim, nada?
    No último sábado estava mais do que deprimida, naquele estágio final, ouvindo Smiths e Joy Division. E também Nirvana. Então a Lívia Guimarães, uma mãe que há alguns anos não vê seus dois filhos e nem a guarda o pai tem ainda, me passou o contato de outra mãe. Resolvi escrever para ela, que não irei colocar o nome aqui, pois essa corre risco de vida, o seu ex, que mora em outro País com os dois filhos do casal, já a ameaçou de morte. Nossa, essa mãe e sua história aumentaram uma indignação que já estava no limite, ficamos até de madrugada conversando. No fim eu estava dando apoio para uma mulher que está aos frangalhos, deprimida e sem sentido na vida. E agora nos falamos diariamente e em breve vamos nos conhecer pessoalmente, porque as coincidências não param.
   A Lívia nem falava muito de sua história por aí, mas ao conseguir falar com o filho mais velho no dia do seu aniversário, nesta semana, e ser chamada por Lívia, ao invés de mãe, a dor corroeu. Resolveu mostrar sua dor para o mundo, iniciando um blog. E hoje Débora Carneiro também iniciou um blog. Desejo que todas essas mães compartilhem suas histórias. Não podemos ser tratadas como números de processos, não podemos ver nossos filhos indo embora em vida, não podemos nos resignar e aceitar uma Justiça falha, cruel, corrupta e continuar ouvindo de advogados* que, infelizmente, o sistema é assim.
   Minha emoção veio porque de repente a indignação tomou corpo e voz. Sozinhas somos apenas umas "mães loucas" querendo vencer o sistema. Juntas nos apoiamos e podemos mostrar para o mundo (sim, para o mundo) como o Brasil trata seus cidadãos. Como esse sistema arcaico nos pune e pune nossas crianças. 
    Sou feminista e cada dia mais feminista. Sei que existem pais que sofrem, mas esses tem todo o apoio da sociedade, de outras mulheres, afinal é normal o pai não exercer a guarda. Anormal é uma mãe não poder ver os filhos: "Nossa, boa coisa ela não é, algo muito grave ela fez". Um pai ausente é super aceito nesse mundo patriarcal, mas uma mãe impedida pela Justiça de exercer a maternidade, só pode ser um monstro. Ah, se todos pudessem ver os "monstros" lindos que nós somos. 
    Ainda temos que ouvir que é preciso seguir com a vida, aceitar, esquecer. Olha, com todo o respeito aos amigos de boas intenções que tentam amenizar nossa dor, esse papo é para quem perde o filho para a morte. Nesse caso não há mesmo o que fazer, é aceitar ou morrer à míngua. Mas nossos filhos estão vivos e crescendo! Não podemos aceitar isso, não podemos!

     Além de todas essas mães, minhas irmãs de dor, existem outras mãe solidárias e que não posso deixar de citar, como a Roberta, uma mãe que viaja e compartilha meu blog na Europa. A médica Rogéria, que me dá tanta força sempre. A minha outra amiga de infância que não conheço pessoalmente, Syleide Gadanho, em Portugal, com sua linda filhinha vitoriosa e batalhadora, Paulina Cabezas, desde el Chile. E a doce Adriana Abujanra, que faz contatos entre mães de todo o Brasil.

* Existem ótimos advogados e promotores e também juízes, mas já estão contaminados pela morosidade do sistema. Minha atual advogada, Lucélia Nunes, tem feito muito por mim, mesmo que nada mais dê certo, ganhei uma amiga. Paguei o mínimo do mínimo para ela, após gastar dezenas de milhares de reais com outros advogados. Espero um dia poder retribuir tudo o que ela faz por mim, em dinheiro!

* *Sou uma pessoa  musical e a música me inspira e me dá ritmo em tudo. Só escrevo com música e esse texto foi escrito com Strokes muito alto, segue o link da que mais me inspirou: http://youtu.be/OqfMnvyFoCM
   
*** Gostaria de pedir para as mães citadas colocarem os links dos respectivos blogs aqui! Amo muito todas vocês!
  

4 comentários:

  1. Sempre que vc me cita, fico emocionada. Vc é uma das "mãe-monstro" mais lindas que já conheci!
    E concordo com o nome da lei.

    Amo você!

    *o link do blog: http://deslizes.tumblr.com

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    1. <3 Conforme o prometido, fiz o tal texto... mas sinto que agora está acontecendo um movimento maior de Mães!!! Todas juntas somos fortes, já dizia Chico nos Saltimbancos!

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  2. Olha as coisas como são?! a primeira pessoa que me deu apoio foi a Elaine também...
    A vida nem sempre é justa. Mas continuamos a luta! Uma luta que terá um final feliz... um final bom.
    E duas mães fazem muito mais que uma... três fazem mais que duas! E várias mães juntas podem mudar o mundo!!! ♥

    Meu blog: http://aculpanaoedascriancas.blogspot.com

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    1. Lívia, a história da Elaine nunca poderá ser esquecida... grávida, com câncer, lutando pela guarda do filho após acusações hediondas... e ainda tinha o dom de nos alegrar e estimular na batalha... quanta falta essa mulher faz! E você, minha querida, parabéns pela iniciativa. Muita gente já me pergunta de você e pede seu contato. <3 muito amor, sempre!

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