quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre Atletas e Nerds

    Essa história de estereótipos é muito castradora. Ninguém é uma coisa só o tempo todo. Me irrita nos meus momentos de melancolia ouvir que tenho que procurar ajuda médica. Por que as pessoas devem ser sempre felizes? Como, se a vida nos testa sobre todos os fatos e sentimentos, exigindo reflexão permanente sobre todas as coisas? E se há razões fundamentais para cair na tristeza e querer fugir da realidade dura e massacrante que nos é imposta? Ninguém é infeliz por opção. Muitas vezes não dá para sair do círculo vicioso da dor. Por isso, por vezes, é necessário se entregar, ir lá no fundo da dor para saber de onde vem. Nem sempre a felicidade é uma escolha, por mais que tentemos. A descoberta está no caminho e não na chegada. Alcançar o objetivo pode ser frustrante até. É como chegar no seu limite. O que há depois disso?
     Então fiquei refletindo sobre o que foi a minha vida até aqui. Uma série de estereótipos! Filha única, logo, mimada e egoísta. Só que não, nunca fui nenhum dos dois. Mas doía que as pessoas, no geral, pensassem isso de mim. Na escola era uma CDF, hoje chamados de nerds, do tipo que usa óculos e senta na frente, que responde tudo primeiro. Então tiravam sarro de mim. Comecei a nadar. Daí era a atleta. Passei a sentar com a turma do fundo na escola, para fugir de ser nerd, mas continuava tirando notas altas. Ficar de recuperação era o maior dos pesadelos para mim. Como nadadora, para os que não nadavam, eu tinha que ser desajeitada e masculinizada, mas não. Inclusive fui miss na escola, embora fugisse de ser a menina bonita, pois as meninas bonitas eram burras! Claro que não!
    E os filmes babacas* dos EUA, dão o modelo mais estereotipado de todos. Os atletas são uns trogloditas que não pensam e os nerds são os antissociais que vivem no mundo aleatório. Mas não é assim, a maioria dos atletas que conheço é muito inteligente, acima da média até. São atletas e nerds!

    A verdade é que sempre gostei de atletas ou nerds. Se for os dois juntos, então, é paixão na certa! Não é à toa que o meu primeiro amor era tudo isso: bonito demais, inteligente demais, nadava bem demais! E talvez fosse demais para mim. E foi daí que comecei a desconstruir essa ideia enraizada de que temos que escolher ser uma coisa só e seguir por aí até o fim. Não, absolutamente, não! Podemos ser muitas coisas ou tentar ser. Na tentativa também é possível descobrir um outro caminho.
   Considero que a perfeição só é atingida com a prática. Desculpem, mas querer não é poder. Não basta querer, tem que fazer! Um exemplo: a pessoa não tem flexibilidade física alguma, mas se todos os dias fizer um aquecimento, fizer alongamento, vai conseguir encostar as mãos nos pés, sem dobrar os joelhos. E não vai demorar muito para isso acontecer.
    Eu tinha um amigo da minha sala, no colegial, que também nadava comigo, o Marco Amaral. Ótimo nadador, treinava com muita disciplina e era o melhor aluno. Entendia de todos os assuntos e era bom em todas as matérias, além do que era também muito bonito, todo esculpido em músculos. Éramos amigos, apenas muito amigos, ele até me dava dicas amorosas, apesar de ser um tímido no amor. Mesmo assim as meninas o achavam esquisito porque era nerd demais. Eu o achava muito divertido em suas conjecturas geniais sobre quase tudo. Vai ver eu também era uma esquisita.
    Percebo agora a diminuição do preconceito com os nerds, finalmente  perceberam serem eles os bem sucedidos do amanhã. Também há uma maior valorização dos atletas. No meu tempo (nossa, como pareço velha escrevendo assim), muitos atletas eram vistos como folgados, que faltam demais nas aulas** e não trabalham. Como se treinar não fosse trabalhoso.
    A esperança para mim é algo que prostra, se você ficar apenas esperando. Não espero, gosto de fazer e sou extremamente imediatista em tudo. Tenho uma sensação estranha de que a vida está acabando e estou perdendo meu tempo. Mas a vida está acabando desde quando a gente nasce e talvez essa seja minha maior angústia. Há tantos livros para ler, filmes para ver, pessoas e lugares para conhecer. 
    Por isso não gosto de esperar. Porém começo a ter  uma certa esperança por conta do caos que está o mundo. Sempre nos piores momentos surgem as melhores ideias. Aparecem as melhores pessoas. E as grandes questões filosóficas também são fruto do caos. Assim como tantos, continuo sendo atleta e nerd na construção da minha personalidade. Mas acho que posso ser mais que isso, se realmente quiser ser.

* Filmes americanos babacas, fique claro, porque há maravilhas no cinema dos EUA
** Atleta falta muito na escola por conta das competições em lugares distantes e porque nenhum campeonato decente dura menos do que 4 dias, tomando de quarta a domingo.
   

2 comentários:

  1. Adri, temos um universo dentro de nós, temos a sombra e a luz, a ignorância e a sabedoria, a consciência e a ilusão. Acho que depende do estado de evolução de cada indivíduo. Para que se faça a luz, há que se ter as trevas. Também quero ser mais. No momento estou conhecendo as minhas trevas, ansioso para que a luz brilhe. A dor, conheço essa senhora, acho que nada mais é do que uma passagem, um canto em que a luz ainda não brilhou. Um beijo no seu coração. Que ele se encha de luz!

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