sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Espiritualidade do Ateu

     Acredito que por não ter religião o ateu não impõe dogmas ou fica seguindo mandamentos que ninguém sabe ao certo de onde vieram. Não falo só por mim e por meus amigos ateus, também por alguns artigos que leio, de outros ateus ou teólogos. Mesmo em pesquisas, que comprovam o que há tempos eu sabia: o ateísmo é uma espécie de evolução. Primeiro que em Países predominantemente ateus, como Dinamarca, há menos conflitos, pobreza e mais educação. Há evolução social e econômica.
    A tolerância do ateu é quase infinita. Constantemente massacrado e sem muitas possibilidades de expressar suas opiniões, evita falar que não acredita em Deus. Em contrapartida tem amigos de várias “facções religiosas” e costuma respeitá-las. Digo por mim, que só não tenho amigos Testemunhas de Jeová, ainda assim conheci Evanize, a mãe de uma colega bailarina de Dora, enquanto a esperava sair de um ensaio no Teatro Municipal de Santos.
    Uma mulher simpática, inteligente e falante. Ela não conseguiu me convencer o motivo de “obedecer a ordem” sobre não fazer transfusão de sangue. Depois me deu até uma revista, com uma carta linda, escrita por ela, com letra e ortografia perfeitas (tenho guardada). Respeitei ainda mais a consideração e devoção dessa mulher, mas não nos tornamos amigas. Mas tenho amigos e familiares evangélicos, espíritas, budistas, rastafáris, católicos, daimistas, muçulmanos e judeus. E posso citá-los e contar histórias ótimas sobre todos eles, mas fica para uma próxima parada *.
    O que a maioria das pessoas com religiões definidas não compreende é que não ter religião é diferente de não ter espiritualidade. Ateu não é um ser que não acredita em nada e fica elucubrando sobre teorias do fim do mundo. Ao contrário, acredito em muita coisa que não vejo, como a velha máxima do “o ar está aí, todos sabem, mas ninguém vê “**.  Acredito na vida em outras galáxias, cura da AIDS e do Câncer, telepatia (empiricamente), na energia solar como principal alternativa para desafogar o planeta.
    Eu tive alternativa. Minha mãe é católica, meu pai era ateu. Casaram-se no civil.  Fui batizada católica pelos meus avós maternos, Janguinho e Cida, mas não lembro de nada porque era bebê e nunca vi fotos. Aos 9 anos minha mãe falou para eu fazer Catecismo, já tinha até madrinha escolhida para a Crisma. As aulas seriam todos os sábados, durante um ano. “Mas e as competições nos finais de semana?”, desesperei. Então, sempre evitando o conflito, meu pai disse que eu fosse no primeiro sábado, se não gostasse poderia parar. A escolha era minha. E foi o que fiz, assim o “bonito” não ficou como máxima influência, na visão católica de minha mãe. A rebelde era eu, que não gostei da aula sobre Adão e Eva.
    E assim, naturalmente, cresci sem religião. Por isso não entendo sonhar com uma vida divina após a morte, se o que temos é essa vida, que pode ser divina, aqui. Ou conformar-se com o sofrimento porque será recompensado após a morte. O que conhecemos de fato sobre o pós-morte é o enterro. A pessoa é enterrada e o que resta dela são as lembranças ou suas obras. Então, se for para fazer tem que fazer agora. O tempo é muito precioso para o ateu.
    Mas eu entendo que pensar positivo nos faça sentir melhor, assim como praticar boas ações, ajudar os outros e não fazer nada que não queira que faça com você. E acredito num encontro com uma energia maior, momentos transcedentais, que dão sentido nessa vida tão sem sentido. Pode ser num mergulho no mar de águas cristalinas, em contato com a natureza, na linguagem universal da música (que faz todo o sentido), na hora de amamentar, ao salvar um animal abandonado, na cumplicidade do melhor amigo, no amor verdadeiro. Qualquer ser humano pode sentir isso e não precisa ter religião. O ateu não precisa ter Deus para amar o próximo.

*Vou escrever sobre experiências com religiões.
** Com exceção de cidades como São Paulo, Los Angeles e outras em que a emissão de gases nos permite ver o ar.

11 comentários:

  1. Nossa tem muito sentido suas palavras e como fui criado dentro do espiritismo, venho procurando criar minha própria espiritualidade. Sim porque basta ligarmos a tv nos dias de hj e verificarmos que espiritualidade não tem nada a ver com essa 9s) religião(s) já que cada uma delas nos impõem dogmas, culpas, pesos, castigos... e por ai vai!Feliz daquele que sabe o que fazer diante de seu próximo: amar! Dri, amo vc viu e desejo sorte pra vc e Dora.

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  2. Adriana, seu texto me motiva a fazer algo mais pelo bem estar social através da sua divulgação.
    Acredito que as pessoas desejem o melhor para a sua família e para a humanidade, porém a maioria não encontrou o melhor caminho. A nossa cultura nos impõe a religião como a única forma, inquestionável, de atingir esse objetivo; a base de ameaça e temor. Eu levei muito tempo para me livrar dessas amarras. Em busca da santidade, exigida pelo catolicismo, eu cheguei ao ateísmo depois de alguns anos. Depois levei alguns anos mais para assumir isto. Não contava com nenhum apoio, todos ao meu redor eram católicos. Se naquele tempo houvesse internet, seria mais fácil.
    É importante mostrar às pessoas que o valor da região teve seu papel no desenvolvimento social lá atrás, nos primórdios da civilização, e que hoje os países mais desenvolvidos socialmente não têm a religião como valor mais importante ou possuem religião não discriminadora ou filosófica.
    Parabéns e obrigado.
    Sérgio Teixeira

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    1. Sérgio,

      É muito bom saber que te motivei. Acredito que, atualmente, religiões continuam sendo o maior entrave para o desenvolvimento social e econômico de muitos países. Ainda hoje sinto muito preconceito com a minha não religião e, muitas vezes, prefiro me calar. Engraçado que quando falo da possibilidade de vida extraterrestre não sofro tanta retaliação. É como conversei ontem com dois amigos (ateus): "A maioria aceita acreditar em ETs, mas não tolera não acreditar em Deus".

      Obrigada,

      Adriana Mendes

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  3. Adriana, gostei muito do seu texto e principalmente da maneira espontânea que você escreve. Concordo com todos os pontos, e até me identifico na parte em que você conta que tem uma mãe católica e um pai ateu, que te deram o arbítrio de fazer a Crisma e de parar, de acordo com a sua vontade. Comigo foi exatamente igual.
    Eu também tenho um blog onde escrevo alguns artigos. A maioria deles envolvem temáticas como religião e respeito à mesma. Acredito que você vá gostar.

    www.regisness.blogspot.com

    Caso se interessar na ideia de fazer parceria de blogs, por favor, entre em contato comigo. No lado direito do meu blog existem vários links com as redes sociais que eu frequento.

    Parabéns pelo excelente texto
    Atenciosamente
    Régis

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    1. Obrigada Regis e desculpe a demora em responder. Podemos fazer links sim. É bom saber q existem pessoas com pensamentos tão parecidos e que se identifcam. Abs

      Adriana

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  4. Adriana, adicione-me no MSN para conversarmos sobre religião e não discutirmos. Beijos.
    abrantesdaniel@hotmail.com
    ou facebook: http://www.facebook.com/daniel.abrantes.98

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  5. Ola Adriana,

    Meu pai faleceu na terça feira, dia 22/08...Em minha infância até que fui bem 'interessado' em religiões, liturgias e dogmas. Acontece que nos últimos anos encontrei na ciência a melhor religião. A ciência e a observação em equilíbrio, na racionalidade materialista com o empirismo metafísico, atingem a expectativa de explicação acerca de coisas como 'sentido', 'de onde', 'para onde' e 'por quê?'.

    Nestes últimos dias refleti bastante sobre tudo isso.

    Seu texto consegue exemplificar o que minha cabeça não está conseguindo organizar e meus lábios não conseguem expressar.

    Abraço.

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    1. Olá, me sinto lisonjeada, com aquele tipo de vaidade intelectual que já cheguei a abominar! Minha cabeça também fica confusa e escrevendo eu organizo meus pensamentos da melhor forma. Que que bom poder te dar um pouco de alento ou compreensão da vida... obrigada! Estou aqui com meus textos para receber apoio, críticas e dividir conhecimento, que quanto mais a gente divide, mais tem!

      Abs

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  6. Adriana sou ateu há 5 anos e nos últimos meses tenho sentido vontade de desenvolver este lado espiritual, mas não o lado espiritual com deuses, fadas e gnomos ou o que os pastores da televisão pregam. Quero uma espiritualidade mais cética e mais focada na natureza, no universo, bem acho que você entende. Este texto foi de grande ajuda para esse processo e gostaria que pudesse me indicar livros ou mais textos a respeito! Espero que mesmo depois de 2 anos do post possa me responder rs.

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    1. Olá Lucas, tardo, mas não falho. Leio física quântica e muito Carl Sagan e Hawking, além dos livros de maçonaria, herança de meu pai. Me escreve mendes_jornalista@yahoo.com.br e te passo bibliografias e trocamos ideias ateístas. Abs

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  7. Para Harris, que também é doutor em neurociência pela Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, desligar a espiritualidade das religiões é o grande passo que faltava às doutrinas seculares. Em seu novo livro, Waking Up (Despertando), recém-lançado nos Estados Unidos, o filósofo mostra que é possível chegar à transcendência e atingir a mais plena felicidade sem se aproximar da essência divina. Mais que isso, indica técnicas, como meditação, respiração e até o uso de alucinógenos, que facilitam o percurso até a espiritualidade dos ateus.

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