sexta-feira, 27 de maio de 2011

Sobre o Chile

Entre a Neve e Mar

   O Chile talvez tenha a geografia mais singular do Planeta: é uma faixa de 4.300km de comprimento por 175 km de largura, encravada entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Tem o deserto do Atacama, o mais seco do mundo, na extremidade norte e geleiras e lagos, na extremidade sul.
   Vai ver por isso os chilenos sejam, na maioria, pessoas quietas, de pouca conversa na rua. O oceano de um lado e a montanha com neve do outro levam à introspecção e reflexão. No Chile todos são um pouco poetas. Gostam muito de literatura. Não é por acaso que lá nasceu um dos meus autores preferidos, o emblemático poeta Pablo Neruda. É dele a brilhante frase: "Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra". Tomei essa frase como minha ainda na adolescência.
  Neruda é o poeta do mar e do amor. E por amor ao Chile desistiu da sua candidatura à presidência em favor do amigo Salvador Allende. Morreu em setembro de 1973, após a destituição do governo Allende, por um golpe militar! Para Isabel Allende, filha de Salvador, em seu livro Paula, "Neruda morreu foi de tristeza".
  A ditadura no Chile foi uma das mais sangrentas da história e durou de 1973 a 1990. Após a anistia, o País seguiu uma trajetória de crescimento econômico e social digna de estudos, tendo o melhor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da América Latina. Também foi o que mais avançou nos direitos à liberdade de imprensa e tecnologias na construção civil.

Abalos Sísmicos e Acidentais

   As tragédias ambientais no Chile só não são maiores porque estão, de certa forma, preparados para grandes catástrofes. São recorrentes pequenos tremores. Mas em fevereiro de 2010 aconteceu um de proporções bem mais graves:  o tremor de 8,8 graus na escala Ricther fez a Terra girar mais rápido. Segundo estudo feito pelo cientista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, Richard Gross, esse abalo deslocou o eixo da Terra em 8 cm e mudou a rotação do planeta em 1,26 microssegundos. Esse mesmo estudo calculou o impacto do terremoto de 9,1 de Sumatra, em 2004, que reduziu o tempo em 6,8 microssegundos e deslocou o eixo em 7 cm.
  Então não é só impressão que o tempo está mais rápido e que as coisas estão fora de eixo. O Planeta está mesmo saindo do lugar e nosso tempo fica cada dia mais curto. E talvez por isso eu não queira mais perder tempo dormindo.
   Recém-chegado ao posto máximo do País, o presidente Sebastián Piñora, teve que encarar esse terremoto seguido de tsunami, muito simbólico. Mal a população se reerguia de mais essa tragédia e acontece o soterramento de 33 mineiros, lá em Copiapó (onde mora um grande amigo meu), no Deserto do Atacama. O resgate desses mineiros foi uma comoção mundial, feito com tecnologia avançada e quem puxou a responsabilidade foi o próprio Governo, pois a empresa não teria estrutura para trabalho tão minucioso. O que parecia mais uma tragédia anunciada, transformou-se em exemplo mundial de esperança, fé, bravura e amizade.
  E por esses e mais tantos motivos tenho uma conexão e admiração profundas pelo Chile, por seus poetas, suas pessoas e suas histórias.

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